Título: Bolsas disparam e dólar rompe R$ 1,92 no quarto dia de alta
Autor: Góes, Ana Cristina ; Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/09/2008, Finanças, p. B1

19 de Setembro de 2008 - Rumores de que o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, iria propor uma solução de longo prazo para por fim à crise norte-americana por meio da criação da uma agência independente que compraria os ativos podres dos bancos promoveu um rali nas bolsas norte-americanas, contagiando o mercado doméstico. As bolsas de Wall Street operaram em alta durante todo o pregão, impulsionadas pela injeção de US$ 180 bilhões que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fez no mercado. Outros cinco bancos centrais seguiram a ação do Fed e também injetaram bilhões no mercado. As bolsas norte-americanas encerraram com valorização superior a 3%. Foi o melhor dia em Wall Street em seis anos. O índice Dow Jones avançou 3,86%, nos 11.019 pontos. O índice S&P 500 fechou em alta de 4,33%, nos 1.206 pontos e o Nasdaq ganhou 4,78%, nos 2.199 pontos. O petróleo teve seu segundo dia de alta após as fortes quedas registradas na semana. O barril de petróleo WTI, negociado no pregão de Nova York, fechou com valorização de 0,74% para US$ 97,88, se aproximando lentamente do patamar psicológico de US$ 100. No mercado doméstico, a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) dividiu as atenções com os desdobramentos da crise norte-americana. Na ata, o Banco Central (BC) afirmou que a percepção de risco sistêmico permanece elevada. A autoridade monetária também expressou preocupação com a demanda, que segue em alta. A ata foi concluída no dia 10, antes da forte deterioração dos mercados financeiros ocorrida nesta semana. "A ata ficou desatualizada, não reflete o cenário atual. Porém, ela esclareceu o peso que o BC atribuiu para a situação internacional. A expectativa é desaceleração na economia", avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que projeta uma elevação em 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) para 14,25% ao ano na próxima reunião do Colegiado. Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) seguiu os passos de Wall Street e encerrou a sessão de ontem em alta de 5,48%, nos 48.422 pontos, após amargar uma queda de 6,74% no dia anterior. No mercado de câmbio, o dólar comercial cravou a quarta sessão consecutiva em alta. A moeda norte-americana encerrou o dia com valorização de 3,22%, cotada a R$ 1,922 na venda. Em Nova York, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que serão feitos leilões de venda de dólares ao mercado com compromisso de compra futura. O instrumento foi utilizado em 2002, época de turbulência dos mercados financeiros antes da eleição presidencial. O diretor da corretora de câmbio NGO, Sidnei Nehme, acredita que a medida do BC será pouco eficaz no mercado. "O foco da alavancagem do preço do dólar está fora do mercado físico. O próprio movimento do câmbio divulgado pelo BC na quarta-feira diz que não existe falta de dólar no mercado. O que ocorre é que os investidores estrangeiros estão apostando contra o real e os fundos hedge, que estavam vendidos em dólar, estão desmontando posições", explica Nehme. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a decisão do Banco Central de ofertar a moeda é para conter possíveis efeitos futuros do aumento da cotação na inflação, que seria impactada pela elevação dos preços de produtos importados, especialmente. "O efeito não é imediato, mas se a cotação aumenta e permanece em níveis altos influenciará na renovação dos estoques." Márcio Peppe, sócio-diretor da área de riscos de instituições financeiras da BDO Trevisan, lista ainda que com isso o BC vai melhorar a liquidez da moeda norte-americana no mercado brasileiro, equilibrando os níveis de pagamento. Para Peppe, o momento também é oportuno para a venda porque o BC, que vem comprando a divisa constantemente, conseguirá taxas melhores em relação as de quando comprou, além de reduzir os custos de financiamento que mantém com a reserva cambial. No mercado de juros futuros negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), os contratos fecharam com tendências variadas. Os de longo prazo fecharam sinalizando forte alta, já no curto prazo as taxas ficaram estáveis. O DI de janeiro de 2012 apontou taxa anual de 15,32%, ante 14,80% do ajuste anterior. O DI de janeiro de 2010, o mais líquido, fechou com taxa anual de 15,30%, ante 14,85% do ajuste anterior. O DI de outubro registrou taxa de 13,61%, ante 13,62% do último ajuste. Novembro apontou taxa de 13,63%, ante 13,65% do fechamento anterior. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ana Cristina Góes e Iolanda Nascimento)