Título: Empresas engordam lucro na esteira do pré-sal
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/09/2008, Infra-Estrutura, p. C4

São Paulo e Rio de Janeiro, 19 de Setembro de 2008 - As descobertas de megajazidas de petróleo na região do pré-sal, no litoral brasileiro, elevarão não apenas a atual oferta brasileira de óleo e gás do País, mas também irão alavancar os negócios das empresas ligadas às atividades de apoio ao setor petrolífero. Na disputa pelo mercado, empresas brasileiras e estrangeiras oferecem desde softwares para poços a "hotéis flutuantes" para trabalhadores das plataforma. "O setor de transportes de cargas superpesadas terá um grande aumento na demanda", afirma Lupércio Torres Neto, presidente da Irga, empresa que fornece equipamentos pesados para transporte de cargas especiais. Torres Neto afirma que o atual cenário trará novas oportunidades de serviços num futuro próximo. "Trata-se de um grande marco para o País e para o nosso segmento", acrescenta o presidente da companhia, que oferece maquinários pesados como guindastes, cavalos mecânicos e carretas. Segundo Torres Neto, desde novembro, quando o campo de Tupi, a primeira descoberta no pré-sal, foi anunciado, o grupo Irga dobrou o seu número de máquinas. "Estamos nos preparando para atender a demanda da primeira fase das descobertas, que está relacionada com a construção de navios, estaleiros e plataformas", afirma. Para o executivo, haverá um novo aumento na demanda quando a segunda fase da exploração for iniciada. "O governo já anunciou que irá agregar valor ao petróleo extraído do pré-sal, portanto será necessário investimentos em refinarias e pólos petroquímicos e aí, novamente, nosso setor será aquecido", avalia. Enquanto os mercados financeiros ao redor do mundo desmoronam, os executivos presentes na conferência Rio Oil & Gas, evento sobre o setor realizado esta semana no Rio de Janeiro, se ocupam em fechar acordos, entusiasmados com a perspectiva de trabalhar com a Petrobras para explorar o petróleo da camada pré-sal, operação que pode custar até US$ 600 bilhões. "Estar com a Petrobras é um pouco como participar da primeira corrida do ouro nos Estados Unidos", disse Mark Grills, um engenheiro de software da empresa britânica QuickWells, cujo produto ajuda engenheiros a planejar a complexa estrutura interna dos poços. "É como se descobríssemos o petróleo novamente", acrescentou. Analistas estimam que as reservas do pré-sal podem conter mais de 80 bilhões de barris, elevando o Brasil a um dos dez maiores produtores mundiais de petróleo. Os executivos afirmam estar claro que a Petrobras está comprometida a gastar muito nos próximos anos para atingir o objetivo de mais de um milhão de barris por dia na camada pré-sal até 2017. Alisdair Harrison disse que sua empresa de embarcações, a britânica Trident Marine Services, opera no Brasil há somente três semanas mas já tem uma parceria com uma empresa local de componentes eletrônicos marinhos. A empresa também mantém conversas para ajudar a construir três plataformas, nove navios e um hotel flutuante para os trabalhadores. "A velocidade é estonteante", disse Harrison. "A Petrobras está superestimando, eles não vão atingir suas metas, há uma escassez global de equipamentos. Mas foi estabelecido um limite e eles estão negociando agora", ressaltou. O desafio tecnológico de trabalhar em grandes profundidades acelera a inovação em empresas que buscam um papel na bonança do pré-sal. A empresa FMC Technologies, sediada em Houston, está tendo que aumentar a resistência à pressão da água e as propriedades anticorrosivas de seus equipamentos para águas profundas. A companhia norte-americana vê a demanda resultante do pré-sal dobrando sua produção de "árvores de Natal" - partes do poço que se assentam no solo marítimo - de 70 a 80 agora para 250 por ano. "É preciso ter uma cadeia de fornecimento bem preparada para lidar com esta demanda. Precisamos de mais empresas apoiando a indústria petroleira", disse José Mouro, diretor de vendas da FMC no Brasil. A italiana Prysmian está desenvolvendo cabos para uso a 3 mil metros de profundidade, mais do que o limite atual de 2 mil metros. A empresa anunciou um contrato de US$ 135 milhões com a Petrobras esta semana, além de planos de investir US$ 110 milhões em uma nova fábrica no Brasil. "Se metade do que ouvimos acontecer, vamos precisar de mais uma fábrica, vamos ter que aumentar nossa capacidade", disse Darcio Rossi Jr, gerente da unidade brasileira da Prysmian. A Gás Energy, consultoria empresarial nas áreas de gás natural e petroquímica, também a expansão de sua estrutura corporativa por conta das expectativas em relação às novas descobertas. A ampliação da estrutura prevê a criação de três novos braços de negócios: Gás Energy Latin America, Gas Energy Chemicals e Gas Energy New Ventures. A empresa informou por meio de nota que "o objetivo do grupo é aproveitar as oportunidades de negócios que se abrirão neste novo ciclo de desenvolvimento da atividade petrolífera no país com a exploração dos campos na camada do pré-sal". Além disso, a empresa prevê aumentar em 70% o seu faturamento como consultoria, saltando de R$ 3,5 milhões este ano para R$ 6 milhões em 2009. Incertezas sobre a nova lei Apesar do otimismo em relação ao aumento da demanda, as incertezas no marco regulatório da exploração de petróleo, que deverá ser alterado por conta das descobertas das megajazidas na camada pré-sal, podem prejudicar o andamentos dos investimentos nas indústrias e empresas que desejam ampliar sua capacidade para atender aos novos pedidos. Eloi Fernández y Fernández, diretor geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP), afirma que a incerteza regulatória é ruim para a indústria. "A incerteza regulatória é ruim, ela trás uma insegurança e perde-se bastante com isso", diz. "Há uma parcela de encomendas que vai ter que sair. Elas podem é não ocorrer no momento certo, em função da incerteza, e isso faz com que os investimentos não aconteçam no tempo. Daí as encomendas podem acabar indo para a indústria de fora do Brasil". Segundo ele, a indústria do petróleo tem uma capilaridade imensa, desde têxteis até equipamentos. "A indústria nacional tem capacidade de atender à plenitude, ou seja, na mesma média que a indústria internacional as demandas. Além disso, há espaço para a indústria crescer, ainda mais com essa perspectiva de investimento do setor do petróleo". (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Roberta Scrivano e Reuters)