Título: Estado precisa ser mais proativo
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2008, Editoriais, p. A2

22 de Setembro de 2008 - A experiência atual do Brasil em relação ao impacto reduzido no mercado doméstico neste pior momento - até agora - da turbulência internacional está dando provas de que os governos precisam, cada vez mais, ser proativos e ampliar as medidas que vão na direção da melhora dos fundamentos macroeconômicos. Nesses últimos dez anos, muitas coisas foram feitas e esses avanços nos deixaram em situação muito menos desesperadora do que nas crises da Ásia e da Rússia, respectivamente, 1997 e 1998, anos em que parecia haver uma nuvem preta permanente sobre o Ministério da Fazenda, em meio ao céu absurdamente azul de Brasília. Por décadas, até mesmo porque os problemas com a inflação demandavam atenção diuturnamente, os governos apenas reagiam com medidas emergenciais quando uma turbulência abatia a economia. Foi assim no passado recente para implementar as metas de superávit primário, por exemplo. Note-se que o problema de adotar ações em um ambiente conturbado e sob pressão levou a fazer o ajuste com aumento expressivo da carga tributária, e não pelo corte de gastos. Situação que perdura até hoje. Um exemplo de uma ação preventiva foi a poupança feita pelo Banco Central (BC) na forma de acúmulo de reservas internacionais. Além de ajudar a reduzir o grau de vulnerabilidade brasileira, agora, com as intervenções, está servindo para tentar diminuir a rapidez de depreciação do real e volatilidade do câmbio. Esse movimento teve seus efeitos colaterais, como o aumento da dívida mobiliária federal, uma vez que os recursos usados pelo BC para comprar dólares eram financiados pela venda de títulos públicos após cada leilão. E, apesar das negativas dos integrantes da autoridade monetária, também serviu para procurar atenuar a apreciação da moeda nacional frente ao dólar. Porém, com a melhora da estrutura do endividamento e a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador que antes afugentou muitos investidores mostra-se sob certo controle. É claro que os efeitos da crise por aqui seriam de proporções bem mais significativas independentemente dos bons indicadores se os bancos nacionais estivessem entrado no esquema de derivativos do subprime. Aliás, diga-se de passagem, as instituições financeiras do País ficaram de fora, não por serem as mais comprometidas com a cautela, mas simplesmente porque, aqui dentro, ganham muito mais, seja aplicando em títulos públicos atrelados à taxa Selic ou cobrando nas linhas de crédito a juros exorbitantes, que deixam qualquer operação de risco imobiliário norte-americano no chinelo. De qualquer forma, o jogo não está ganho e, pelo jeito, nem perto do final. Por isso, o presidente Luiz Inácio da Silva devia fazer menos chacota da situação alheia e primar pela prudência, comandando um reforço da política fiscal. Afinal de contas, o Brasil ainda tem uma necessidade de financiamento, ou seja, déficit nominal em torno de 2% do PIB. Há três motivos para que essa medida seja tomada agora. O primeiro porque, sem afobação, seria possível realmente cortar gastos em vez de comprometer investimentos, como ocorreu no final dos anos 90 e início desta década. Outra razão é que, assim como em toda crise financeira, manter a confiança dos agentes é fundamental, e ações na direção da melhora da qualidade do superávit contribuem muito positivamente. Por último, mas não menos importante: momentos de menor liquidez nos mercados requerem uma política monetária mais frouxa. No entanto, para que o BC reduza o ritmo de aperto, é preciso haver um equilíbrio gerado pela política fiscal. Principalmente em uma situação na qual ainda existem pressões reais sobre a inflação. kicker: Um exemplo de ação preventiva foi a poupança feita pelo BC quando acumulou reservas (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2) SIMONE CAVALCANTI* - Editora-adjunta de NacionalE-mail: scavalcanti@gazetamercantil.com.br)