Título: Mercado comemora pacote e diz que o pior da crise passou
Autor: Pinheiro, Vinícius
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 22 de Setembro de 2008 - O pacote anunciado pelas autoridades norte-americanas para debelar as dificuldades pelas quais passa o sistema financeiro deve, enfim, deixar os piores momentos da crise para trás, na avaliação de especialistas do mercado financeiro. A reação da Bovespa deu a dimensão do clima de otimismo entre os investidores e disparou 9,57% na sexta-feira, maior alta em um único dia desde o dia 15 de janeiro de 1999, ainda no auge da crise que acabou com regime de câmbio fixo no País. Os analistas ainda aguardavam os detalhes das medidas, que seriam anunciados neste fim de semana. A primeira leitura do pacote, no entanto, foi extremamente positiva. De acordo com o diretor-executivo da área de gestão de recursos do HSBC, Pedro Bastos, ao contrário de momentos anteriores, existe uma ação coordenada com o objetivo de restaurar a tranqüilidade aos investidores e ao sistema financeiro. "As medidas aumentam a confiança de que o processo de desalavancagem dos bancos será bem sucedido." Para o diretor do HSBC, a tendência é de que a bolsa brasileira retome as altas já no curto prazo. "A recuperação deverá ser robusta e rápida", ressalta. Ele avalia que a derrocada da Bovespa nas últimas semanas foi motivada pelo temor de que a desaceleração econômica global se traduziria em uma forte queda na demanda por matérias-primas. "Com a China crescendo a 9% ao ano não vejo como decretar o fim do ciclo de commodities", argumentou, durante seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef). Segundo Bastos, que comanda uma equipe responsável pela gestão de US$ 31 bilhões, os resgates nos fundos do HSBC no auge da crise foram "insignificantes". Para ele, o fluxo de recursos de investidores estrangeiros deve voltar gradualmente ao mercado brasileiro, com a diferença que, após a conquista do grau de investimento, os recursos que chegarão ao País tendem a ser melhor qualidade. Na análise da diretora de gestão da Fator Administração de Recursos, Roseli Machado, o pacote anunciado pelo governo norte-americano estancou a sangria dos mercados acionários mundiais, incluindo a Bovespa. Para ela, os resgates anteriores promovidos pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) não traziam uma solução para o problema de empoçamento de liquidez do sistema, que pode finalmente ser resolvido com a implementação das medidas, que prevêem a recompra pelo governo dos títulos hipotecários podres que estão nas carteiras dos bancos. "As medidas anteriores foram apenas um aperitivo na comparação com anúncio de sexta-feira." Sobre o desempenho da bolsa brasileira, a diretora da Fator considera que, além dos acontecimentos da economia norte-americana, é preciso acompanhar a trajetória da demanda por commodities. "O mercado permanecerá com um olho nos Estados Unidos e outro na China." Luz no fim do túnel A intervenção ampla do governo norte-americano na crise financeira foi a grande luz no fim do túnel que o mercado tanto esperava para retomar o clima de confiança, segundo o diretor de gestão da Meta Asset Management, Alexandre Horstmann. "O pacote parece ser o suficiente para tirar o cenário de catástrofe do radar." O executivo pondera que as medidas, apesar de positivas, não resolvem o problema da chamada economia real norte-americana. "O processo de contração de crédito ainda está por vir, o que deve levar a uma desaceleração econômica maior." Horstmann afirma que dificilmente a Bovespa voltará aos níveis mínimos de pontuação como os registrados na semana passada, mas considera que a euforia observada na sexta-feira está longe de significar uma recuperação da bolsa para as máximas históricas registradas em maio deste ano. Ver também págs. A12 e B2(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Vinícius Pinheiro