Título: 16,2 milhões de miseráveis
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 04/05/2011, Política, p. 5

A partir de dados do Censo, governo chega ao diagnóstico de que 8,5% da população brasileira está no grupo que a presidente Dilma promete tirar das condições de extrema pobreza em quatro anos.

A extrema pobreza atinge 16.267.197 habitantes no Brasil, ou 8,5% da população. São pessoas que sobrevivem com renda per capita familiar mensal de até R$ 70 ¿ ou sem renda alguma e que não têm acesso a banheiro exclusivo, energia elétrica ou ligação com rede de esgoto. É para esse grupo ¿ identificado a partir de dados do Censo Demográfico de 2010 ¿ que o governo pretende anunciar nas próximas semanas o Plano Brasil sem Miséria, na tentativa de cumprir a principal promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff.

Silvana Ramos de Sousa, 29 anos, é potencial beneficiária das ações. Ela vive em um barraco na área de transição do Varjão. Não pode construir na área da casa provisória e as crianças brincam no chão batido na frente da habitação improvisada. Uma gravidez de seis meses dificulta a possibilidade de que conquiste um emprego. O sustento vem de R$ 130 mensais do Bolsa Família. Com o dinheiro, compra arroz, feijão, óleo e macarrão para as filhas Maria Eduarda de Sousa, de 5 anos, e Bhrenda Cristiny de Sousa, de 11.

¿Quem me sustenta é Deus. Sou pobre mesmo, mas me sinto humilhada em pedir cesta básica, em dar este depoimento. Minha gravidez foi um susto. Depois disso não consegui mais nada. Mas não me sinto bem em receber do governo. Quero estudar, trabalhar¿, diz Silvana, que já trabalhou de vendedora, recepcionista, auxiliar de odontologia e sempre recebeu salário mínimo.

A situação da dona de casa não é pontual. O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, lembra que a extrema pobreza atinge quase 1 brasileiro em cada 10: ¿Não estamos falando de um contingente residual. Essas pessoas vivem com renda tão baixa que não conseguem suprir necessidades mínimas¿. Para Pochmann, essa ¿é uma das piores mazelas que acumulamos ao longo da nossa história¿.

Prioridade No papel, o Plano Brasil sem Miséria, em gestação no Ministério de Desenvolvimento Social, tem como meta erradicar em quatro anos essa faixa de extrema pobreza. Para isso, vai priorizar três eixos de ação: transferência de renda, acesso a serviços públicos e inclusão produtiva. De acordo com o IBGE, os 16,27 milhões de brasileiros extremamente pobres vive em 7% dos domicílios do país. Os dados apontam que 46,7% dos integrantes dessa faixa de renda moram na zona rural e que as regiões Nordeste e Norte concentram os maiores índices da população em situação de miséria: 18,1% e 16,8%, respectivamente.

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, afirmou que o plano pode expandir a quantidade de pessoas com acesso ao Bolsa Família. ¿Hoje, o projeto atinge cerca de 85% das pessoas que constituem o público-alvo, mas vamos buscar quem poderia estar recebendo e não recebe¿. Ainda segundo a ministra, a maioria das pessoas recebem o benefício para complementar a renda ¿ e 56% dos que recebem não constituem parte da população economicamente ativa.

DF tem menor percentual Dos 16,27 milhões de brasileiros extremamente pobres, 46.588 estão em 12.516 domicílios do DF. O contingente dessa faixa de renda na capital é o menor do país em análise proporcional: 1,8% da população. O maior problema é encontrado na Bahia, que conta com 2,4 milhões de pessoas que vivem em famílias com renda de até R$ 70 per capita mensal, ou 17,1% dos habitantes. A média nacional é de 8,5%.