Título: Robô encontra outra caixa-preta
Autor: Àlvares, Dèbora
Fonte: Correio Braziliense, 04/05/2011, Brasil, p. 8

Equipe localiza o equipamento no qual estão gravados os diálogos dos pilotos do avião. Expectativa agora é por operação de resgate de corpos no fundo do mar.

Foi encontrada mais uma peça para ajudar a elucidar o motivo da queda do Airbus A330 da Air France que fazia o voo 447, do Rio de Janeiro a Paris, em 31 de maio de 2009, quando 228 pessoas morreram. Segundo informou o Birô de Análises e Investigação da França (BEA, na sigla francesa), que lidera as investigações, o robô Remora 6000 retirou do fundo do mar, na noite de segunda-feira, a caixa-preta que contém o registro de voz dos pilotos na cabine da aeronave ¿ a outra, a Flight Data Recorder (ou FDR, na sigla em inglês), que grava os dados de voo, já havia sido resgatada no último domingo.

As caixas-pretas são formadas por material resistente a impactos e ao fogo, e têm registradas todas as informações das últimas 100 horas de voo, além de 36 horas de gravação de voz e de sons da cabine dos pilotos. Segundo especialistas, esses equipamentos costumam ser a peça-chave para desvendar os motivos de acidentes aéreos. E essa é a expectativa, tanto de autoridades quanto de familiares das vítimas. As caixas-pretas estão em bom estado, segundo o BEA, e estão no navio francês Île de Sein, que seguirá para Caiena, na Guiana Francesa. De lá, serão transportadas de avião para a França, onde ocorrerá a leitura dos dados.

Embora já tenha cumprido o principal objetivo da operação ¿ resgatar as caixas-pretas a fim de desvendar o que provocou a queda do Airbus ¿, a equipe de investigação não encerrará as buscas ainda. Nos próximos dias, deve recolher outras peças da aeronave, já identificadas e consideradas importantes para explicar as causas da tragédia.

Análise de dados A recuperação das caixas-pretas retoma a discussão sobre a análise das informações nelas contidas. Por diversas vezes, desde que os primeiros destroços da aeronave foram localizados, a cerca de 10km do local onde o avião apareceu pela última vez nos radares, próximo ao arquipélago de São Pedro e São Paulo, a cerca de mil quilômetros da costa brasileira, o BEA afirmou que a abertura do conteúdo das caixas-pretas ocorreria na presença de representantes franceses. Os familiares das vítimas cobram que estrangeiros credenciados acompanhem o processo até o fim das investigações.

Ainda não há a confirmação de como ocorrerá a leitura das caixas-pretas, mas a Força Aérea Brasileira (FAB) lembrou, esta semana, que o coronel Luís Claudio Lupoli, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), representante do Brasil a bordo do navio Île de Sein, tem acompanhado todos os procedimentos.

A participação de Lupoli e de outros técnicos estrangeiros atende à pressão crescente das famílias de vítimas que questionam a transparência das investigações. A desconfiança decorre do fato de o governo da França ser acionário das empresas envolvidas no acidente: a Air France, companhia aérea; a Airbus, fabricante da aeronave; e a Thales, que produz as sondas de velocidade do avião, chamadas Pitot. Essas sondas apresentaram falhas durante o voo 447.

Corpos Além de retirar a última caixa-preta do fundo do mar, a equipe francesa deve iniciar, nas próximas 48 horas, uma operação para tentar resgatar os corpos encontrados sob destroços no domingo. A informação foi dada por uma fonte ligada aos resgates à agência de notícias France Press, mas não há confirmação da iniciativa.

Apesar do rumor, a decisão sobre a retirada dos corpos ainda permanece sem respostas oficiais. O diretor executivo da Associação dos Familiares de Vítimas do Voo AF 447, Maarten van Sluys, não está esperançoso. ¿A minha convicção pessoal é de que os corpos não serão resgatados, por tudo o que já ouvi a respeito, mas isso não é dito oficialmente¿, disse Maarten van Sluys.

Responsabilidade A Convenção de Chicago, da qual o Brasil, a França e outros 50 Estados são signatários, estabelece as regras internacionais da aviação civil. O anexo 13 estipula a hierarquia de responsáveis em casos de acidente aéreo: em primeiro lugar, o país da matrícula do avião, seguido pela nação da empresa à qual pertence a aeronave e, por último, o Estado em que a aeronave foi construída. Nos três casos, a França é a principal envolvida. A Associação das Famílias das Vítimas do Voo 447, representando os familiares brasileiros das pessoas que perderam a vida no acidente, havia solicitado uma análise isenta dos gravadores das informações do voo para o Ministério dos Transportes da França e para o presidente do país europeu, Nicolas Sarkozy.