Título: BC é criativo, diz Mantega
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 04/05/2011, Economia, p. 9

A despeito de as medidas macroprudenciais, consideradas alternativas às elevações da taxa básica de juros, ainda não terem arrefecido a economia num ritmo suficiente para conter a inflação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está otimista com o potencial delas. Para ele, o Banco Central foi criativo no uso dessas ferramentas: atuou para barrar a carestia e, ao mesmo tempo, tentou garantir que o país mantivesse o dinamismo. Nas palavras do ministro, ¿derrubar a inflação derrubando o crescimento, qualquer um faz¿. ¿Se houvesse apenas essa alternativa, não precisaria de ministro da Fazenda¿, afirmou durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

O ministro reiterou sua projeção de crescimento econômico em 4,5% neste ano, embora os analistas de mercado apostem apenas em 3,5%. A estimativa de Mantega para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 5,6%, também bastante menor que a dos especialistas (6,37%). Senadores de oposição criticaram o otimismo, mas o ministro seguiu sua pregação. ¿A política econômica no Brasil é consistente¿, disse. ¿A inflação é uma questão fundamental. Vamos ficar sempre alertas para impedir que ela volte. Temos focos internos, especialmente no setor de serviços¿, minimizou.

Desconfiança O mercado, assim como os oposicionistas, não acredita no cenário desenhado pelo governo. Desconfia das medidas para conter o consumo. Semana após semana, os analistas aumentam a previsão de inflação, aproximando-a do teto da meta (6,5%). Com a contínua piora das expectativas, Mantega atacou o mercado. Disse que tem muita gente ¿operando para ganhar dinheiro¿. Explicou aos senadores que as pressões causadas pelo preço da gasolina devem diminuir em maio. Segundo ele, a colheita de cana de açúcar já começou e, em breve, o etanol deverá ficar mais barato, influenciando o combustível derivado do petróleo.

¿A partir de maio, as chuvas devem parar. Não sei por que ainda não pararam. São Pedro não está nos ajudando¿, disse em tom de brincadeira. O ministro voltou a dizer que o consumidor não será prejudicado por uma eventual alta da gasolina nas refinarias. ¿Caso seja necessário a Petrobras aumentar o preço, nós iremos diminuir a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) para não subir na bomba.¿ Convocado para explicar o papel do governo na troca de comando da Vale, ele defendeu o direito de opinar na gestão da empresa, de cujo capital participa por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas garantiu que não houve interferência do executivo na saída de Roger Agnelli da presidência da mineradora.

Bons problemas O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu uma ação forte do governo no controle do fluxo de capitais estrangeiros. Não descartou o uso de nenhuma ferramenta, nem mesmo de uma quarentena de investimentos estrangeiros no país. Porém não quis descrever o que planeja. ¿É sempre bom ter o efeito surpresa a nosso favor¿, destacou. Mantega ainda classificou o expressivo fluxo de dólares para o Brasil como um dos ¿muitos e bons problemas¿ que o país tem de enfrentar. ¿Prefiro ter excesso de capital para resolver a nenhum. Prefiro ter falta de mão de obra do que falta de vagas.¿