Título: Um Falcão de voo baixo no Planalto
Autor: Rothenburg, Denise ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 30/04/2011, Política, p. 2

O deputado estadual paulista Rui Falcão conquistou a Presidência do PT até 2013, mas não levou o posto de principal interlocutor do partido com o governo Dilma Rousseff. A posição ficará nas mãos do secretário de Organização, Paulo Frateschi, que tem mais laços com o governo Dilma. Embora eleito por unanimidade, Falcão não era o candidato dos sonhos do Planalto. Até quinta-feira, o grupo Construindo um Novo Brasil (CNB) esperava que José Eduardo Dutra optasse por prorrogar a licença, mas Dutra preferiu renunciar para poder se dedicar integralmente ao tratamento de saúde (leia mais na página 4).

Enquanto o CNB tentava chegar a um nome com o aval de Lula e Dilma, Falcão mobilizou a bancada petista na Câmara. Lula e Dilma chegaram a tratar do nome do senador Humberto Costa (PT-PE), que terminou recusando a proposta por não ter o apoio de todo o partido. Os deputados, por exemplo, em especial os paulistas, consideraram que não havia motivos para não dar a vaga ao vice, Rui Falcão. ¿Teria que haver motivo para dizer que ele não poderia ser e esse motivo não existia¿, disse um petista.

Para a legenda, admitir que Falcão não era bem-vindo à Presidência do partido por conta do escândalo do dossiê envolvendo a quebra de sigilo da filha de José Serra na campanha de 2010 seria reconhecer que houve dedo do PT no episódio. O partido sustenta que não encomendou qualquer dossiê. ¿Do ponto de vista do PT, esse assunto não existe¿, comentou o deputado André Vargas (PT-PR). O próprio Rui Falcão trata do assunto como página virada. ¿O PT não fez dossiê, estamos tratando disso na Justiça e está acabada a conversa¿, comentou, numa rápida entrevista logo depois da eleição.

Sem motivo formal para recusar o nome, o próprio Lula chancelou a indicação de Falcão quinta-feira, antes de seguir para o Alvorada, onde jantou com Dilma. A ideia de decidir rapidamente a sucessão foi não gerar crise no momento em que o governo vai bem e precisa estar focado nas alianças rumo às eleições de 2012, na reforma política e na conjuntura econômica.

Saudade Dilma não definiu oficialmente seu interlocutor na burocracia partidária. Embora tenha preferência por Frateschi, ela tratou de cumprir o protocolo. Ontem, telefonou para Falcão e o cumprimentou pela posse. Mas, aos amigos, não negou que sentirá saudades de Dutra. Durante jantar no Alvorada, a presidente comentou que Dutra faria falta e se referiu a ele como um de seus fiéis escudeiros durante a campanha. Pouco se falou sobre Falcão nesse encontro que contou, além de Lula, com a presença de colaboradores dela e do governo anterior. Da equipe de Dilma estavam os ministros da Casa Civil, Antonio Palocci; da Fazenda, Guido Mantega; do Banco Central, Alexandre Tombini; o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho; e a ministra da Comunicação, Helena Chagas. Do governo anterior que não permaneceram na equipe de Dilma, foram convidados o ex-ministro da Secretaria Geral, Luiz Dulci, e a ex-assessora da Presidência, Clara Ant.

Os ministros da área econômica foram chamados porque a ideia inicial era fazer uma reunião econômica, mas como a presidente está gripada, a parte formal foi cortada. Dilma e Lula tiveram ainda uma conversa a sós, onde o tema central, segundo petistas, foi o PT. Terminada a conversa, assistiram a um vídeo sobre a posse da presidente, apresentado por Roberto Stuckert, o fotógrafo da Presidência. Além de assuntos palacianos, a economia era um dos temas da reunião do Diretório Nacional petista, mas essa discussão teve de ser postergada por conta da eleição do novo presidente do partido.

Discrição sem arestas Professor, Frateschi é visto como um político discreto, que não está o tempo todo na imprensa e nem tem arestas com setores do partido. Além disso, tem projetos na área de educação, especialmente no que se refere à formação de jovens, uma das prioridades do governo. Essas facetas terminaram por aproximá-lo da presidente Dilma Rousseff.