Título: Dutra oficializa saída para cuidar da saúde
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 30/04/2011, Política, p. 4

Visivelmente abatido por problemas de saúde, José Eduardo Dutra confirmou a decisão de renunciar à Presidência do PT às 11h30 de ontem, durante a reunião do Diretório Nacional do partido. O ex-senador estava afastado das funções há um mês para tratar de uma hipertensão crônica. O cenário evoluiu, contudo, para um quadro depressivo e epiléptico, com sintomas de confusão mental e alteração súbita de humor. O próprio Dutra confirmou que chegou a ficar dois dias e meio enclausurado em casa, no Rio de Janeiro, sem distinção correta entre sonho e realidade. ¿É um tipo de epilepsia que nunca havia se manifestado e que se localiza no lóbulo temporal, afeta o humor. O que houve comigo não são manifestações de convulsões¿, explicou.

A carta de renúncia do agora ex-presidente cita a necessidade de modificar o estilo de vida, decisão incompatível, segundo ele, com um tempo em que o partido necessita de um comando presente. Depois do ponto alto da crise de saúde, em março, Dutra já apresenta melhoras, mas o processo poderia ser interrompido caso ele fosse submetido a nova situação de estresse.

No período em que ficou enclausurado em casa, o ex-presidente petista chegou a postar no Twitter, em 15 de março, uma mensagem fantasiosa. ¿Quem viu um tweet postado em 15 de março, em que falo que estava debatendo com a Miriam Leitão no Cine Itauna, em Caratinga? Eu estava sonhando acordado. Inicialmente achei que alguém tinha postado, mas realmente tinha sido eu porque meu celular repete o a três vezes e estava lá Caratingaaa¿, explicou. No mesmo dia, outra mensagem denotava a confusão entre sonho e realidade. ¿Na Praça da Caatedral, só se ouvem gaalos e cachorros¿, escreveu.

Aos companheiros de partido, Dutra ressaltou que a doença não o compromete fisicamente nem emocionalmente e que, uma vez tratado, retornaria à legenda. ¿Estou deixando a Presidência, não me aposentando por invalidez. Vou mudar meu estilo de vida¿, avisou. Depois da fala de despedida do posto, falaram em favor do ex-presidente os líderes petistas no Senado, Humberto Costa (PE), e na Câmara, Paulo Teixeira (SP). Também deram depoimentos os ministros da Fazenda, Guido Mantega; de Relações Institucionais, Luiz Sérgio; e das Mulheres, Iriny Lopes. Completaram o mosaico de elogios o deputado federal Márcio Macedo (PT-SE); o secretário-geral petista, Elói Pietá; o secretário de Habitação do DF, Geraldo Magela; e o governador de Sergipe, Marcelo Déda.

Desprendimento A maior parte enalteceu a postura de Dutra, de abrir mão de projetos pessoais em favor do partido, como nas últimas eleições, quando abandonou a disputa por um mandato de deputado federal para coordenar a campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. ¿Devemos ao Dutra enquanto presidente da Petrobras a retomada da indústria naval brasileira e a implementação de refinarias em todo o país¿, disse Costa. Principal nome petista em Sergipe ao lado de Dutra, Marcelo Déda lembrou que também teve de licenciar-se do governo sergipano por 100 dias por problemas de saúde, mas, curado, retornou às funções. Por isso, pediu que o ex-presidente deixasse a história de lado e cuidasse um pouco da vida. ¿Não sei fazer política sem José Eduardo Dutra. Quanto mais forte a tempestade, mais o mar nos chama. Por isso, fique aí um pouco no porto e depois volte para nos ajudar¿, pediu.