Título: Sem esgoto e sem coleta de lixo
Autor: Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 30/04/2011, Brasil, p. 12

Apesar do crescimento do acesso da população aos serviços básicos, o número de pessoas que não tem nenhum tipo de atendimento é grande no Brasil. Segundo os dados do Censo 2010, das 57.324.185 de residências no país, 3.562.671 (6,2%) não tinham banheiros, enquanto outras 7.218.693 (12,5%) não contam com a coleta de lixo regular. O Distrito Federal ficou com os melhores índices entre todas as unidades da Federação, mas os números do IBGE mostraram que o problema ainda existe, apesar de ter diminuído nos últimos 10 anos.

Os números do IBGE também apontaram que 728.512 casas não contam com energia elétrica e, em outras 9.830.741 não há abastecimento de água. Rondônia ficou os menores índices de domicílios com rede de distribuição de água: 38%, um aumento de 8% em relação ao Censo de 2000. O melhor número é do DF, que tem 95,11% das residências com rede de água e 99.91% de esgoto. Além do Distrito Federal, todos os estados do Centro-Oeste ficaram nas primeiras colocações em relação aos serviços básicos.

Mas os dados mostram que o DF ainda tem problemas no atendimento básico. Quem mora principalmente na periferia de Brasília ou no Entorno do Distrito Federal sente ainda mais a falta dos serviços. Nos finais da tarde, o passatempo de Griziela Rodrigues dos Santos é assistir uma partida de futebol dos filhos e de outras crianças em uma das ruas da Estrutural. Grávida, ela deixou de coletar material reciclável para ficar em sua casa, localizada em uma rua sem calçamento, com coleta de lixo precária e com esgotos a céu aberto, onde os meninos praticam esporte. Para sair de casa, Gerson dos Santos usa seu instrumento de trabalho, que é a carroça. Sua rua, também na Estrutural, fica cheia de lixo que não é recolhido. ¿Lá não tem nem fossa¿, diz Gerson, revelando que quando o lixo acumula, ele mesmo joga fora.

Gerson reclama da falta de coleta de lixo na Estrutural: "Não tem nem fossa"

Cota dos vizinhos No condomínio Sol Nascente, na Ceilândia, os problemas são os mesmos de 25.538.131 moradias em todo o país, que não têm rede de esgotamento sanitário. Isso corresponde a 55.45% das residências brasileiras, que é 7% a mais do que no Censo de 2000. ¿Aqui não tem esgoto, só a promessa de que um dia teremos¿, afirma Edmilson Carlos Hertel, um dos mais antigos moradores do condomínio. Assim como em outros lugares do DF, a coleta de lixo existe, mas de forma precária. Para evitar que o lixo acumule em casa à espera do caminhão os vizinhos fizeram uma cota e fabricaram uma lixeira coletiva.

Os estados da Região Norte são os que mais apresentam problemas em relação aos serviços básicos, segundo o Censo 2010 do IBGE. Na questão do saneamento básico, apenas 13,98% dos 3.975.533 domicílios são atendidos por este tipo de serviço. Apesar de o crescimento das residências no Norte nos últimos 10 anos ter sido de 6,75%, a melhoria do saneamento avançou apenas 3,64%. A mesma situação ocorreu no Nordeste, que teve um crescimento de domicílios de 13,07% e aumento do saneamento básico de 7,5% em relação ao Censo 2000.