Título: O reflexo da pobreza
Autor: Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 30/04/2011, Brasil, p. 12

O Brasil tem, de acordo com os dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,5 milhões de domicílios ocupados. E mais da metade deles ¿ 32,2 milhões ¿ vive com apenas um salário mínimo per capita ao mês. A triste realidade da baixa renda presente se mostra também em outros números, que são igualmente preocupantes apesar de estatisticamente pequenos se olhados de maneira proporcional. Em 132 mil lares brasileiros, número maior do que o de habitantes do Gama, os chefes de família são crianças de 10 a 14 anos. Outros 61 mil jovens, com idades entre 15 e 19 anos, aparecem nas estatísticas como responsáveis pelos domicílios onde moram.

No Nordeste, a renda de 80,3% das casas é de apenas R$ 545 mensais. A região, no entanto, é a que apresenta situação melhor quanto às casas sustentadas por crianças. A maior proporção aparece no Centro-Oeste, onde 0,26% dos lares é chefiado por menores de 14 anos. O Distrito Federal fica acima da média nacional, de 0,22%, e aparece em 8º lugar no país, com 2.026 das 774.922 casas com responsáveis de até 14 anos (veja quadro acima).

A partir dos 16 Entre os estados, Amapá e Amazonas são as que têm situação mais preocupante, mesmo com números absolutos baixos. São 582 e 2.906 domicílios nestas condições, respectivamente. O equivalente a 0,37% e 0,36% do total. Segundo o presidente do IBGE, apesar dos valores proporcionais serem baixos, o Censo 2010 indica que pelo menos 132 mil crianças trabalham de forma irregular no país. ¿É mais uma evidência da existência do trabalho infantil, e que em muitas famílias é a principal fonte de renda¿, afirma Eduardo Pereira Nunes.

A Constituição de 1988 admite o trabalho a partir dos 16 anos, exceto nos casos em que o ofício é exercido no período da noite, em situações perigosas ou insalubres, quando a idade mínima passa a ser 18 anos. É possível trabalhar ao completar 14 anos, mas apenas na condição de aprendiz.

Pelo país

* Em todo o Brasil, 132.033 domicílios são chefiados por crianças de 10 a 14 anos. Representam 0,22% do total nacional de lares (57.428.017)

* Proporcionalmente, o Amapá é a unidade da Federação que tem o maior quantidade de crianças no comando dos lares. São 582 residências. Ou seja, 0,37% das 156.818 dos imóveis amapaenses.

* O Distrito Federal aparece em 8º lugar no ranking dos lares chefiados por crianças. Está acima da média nacional. Por aqui, são 2.026 casas sustentadas por pessoas com até 14 anos, o representa 0,26% do total de 774.922 residências brasilienses.

* Já o Piauí é a unidade de Federação que, proporcionalmente, tem a menor quantidade de lares comandados por crianças. São 1.055 residências ¿ 0,12% do total.

Campeão dos aluguéis Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Enquanto a população brasileira cresceu de forma mais lenta e o número de domicílios com mais de cinco pessoas caiu, a quantidade de casas com apenas um morador teve aumento de mais de 4 milhões, chegando a 6,9 milhões de residências com pessoas que vivem sozinhas. Dos 57,3 milhões de imóveis no país, 73% são próprios e 18%, alugados ¿ os 9% restantes foram classificados como outros (cedidos, fechados etc). O Distrito Federal é o campeão dos aluguéis, com 30% dos residentes em imóveis locados, bem à frente do segundo e do terceiro colocados no ranking, Goiás (24%) e São Paulo (21%). Mesmo com a grande quantidade de imóveis disponíveis para locação no DF, quem procura por um local para morar na cidade esbarra nas dificuldades para fechar um contrato. A estudante Lucyane Bertrand, 21 anos, mora em uma quitinete da Asa Norte. Nascida em São Luís, ela veio morar na capital há três anos e viveu em repúblicas até um ano e meio atrás, quando o pai conseguiu comprar o imóvel. ¿Algumas imobiliárias pediam até dois fiadores para alugar um apartamento, e eles precisavam ser moradores do DF. Para quem é de fora é muito difícil conseguir encontrar¿, afirma a estudante, que prefere a privacidade de morar sozinha. (AES)

Curiosidades

14.614 Total de pessoas que vivem em ocas ou malocas no Brasil. A maioria está nas regiões Norte (7.972) e Centro-Oeste (5.289)

Candangolândia cresce muito pouco No Distrito Federal, a única região administrativa onde a população se manteve estável nos últimos 10 anos é a Candangolândia. O acréscimo foi de 290 pessoas no local ¿ dado estatisticamente irrelevante. Para o IBGE, a falta de espaço para expansões explica o fenômeno. Ceilândia continua respondendo pela maior parte dos habitantes do DF, com 15,7% do total. Taguatinga permanece na segunda posição, com 14%. Sobradinho é a grande novidade, passando do 7º para o 3º lugar, devido à criação do Itapoã e expansão dos condomínios.

2,66% Percentual de domicílios no DF que estavam fechados e, portanto, não receberam a visita de recenseadores. O IBGE explica que o entrevistador insiste para tentar encontrar a residência aberta. Dados estimados, porém, entram nas estatísticas.

19 Número de regiões administrativas do DF que o IBGE considera em suas análises. As outras 11 já existentes não são computadas porque, segundo o órgão, não há leis definitivas sobre a existência delas. Dessa forma, Taguatinga, Águas Claras e Vicente Pires, por exemplo, são apenas uma região administrativa para o IBGE. Da mesma forma, o Sudoeste sozinho não existe, faz parte do Cruzeiro.

Ficha técnica do Censo 2010

230 mil pessoas trabalharam, sendo 191 mil como recenseadores; R$ 1,2 bilhão é o total do investimento para a realização do maior estudo feito sobre o país; 67,5 milhões de domicílios foram visitados entre 1º de agosto e 31 de outubro de 2010.