Título: De carro, até parando
Autor: Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2011, Brasil, p. 14

O acelerado crescimento populacional nos grandes centros urbanos, aliado à falta de investimentos em infraestrutura de transportes, provoca uma estressante realidade no dia a dia dos brasileiros. Dados do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), mostram que 43,5% dos motoristas de carros particulares enfrentam congestionamentos diariamente. Ainda assim, 20% deles não usariam coletivos em hipótese alguma. Entre os usuários do transporte público, as reclamações com relação à lentidão do trânsito chegam a 35,06%.

A grande quantidade de carros nas ruas tem contribuído para o aumento de engarrafamentos e poderia ser amenizada com a construção de corredores exclusivos para ônibus, os chamados Bus Rapid Transit (BRT), de acordo com o presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Vieira da Cunha Filho. Segundo Cunha, o Distrito Federal é uma das localidades que mais têm potencial para implantar o sistema. No entanto, projetos como a Linha Verde, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), foram mal-elaborados e não funcionam como deveriam. ¿As estações de embarque são muito malfeitas e não vão atender a necessidade. Tem que haver uma alça de ultrapassagem dos ônibus para ter velocidade comercial. A via precisa ser fechada, sem acesso para os carros particulares, como é hoje. Com pouquíssima adaptação, poderíamos ter um modelo que a população iria aplaudir¿, defende Cunha.

Os 2.786 usuários entrevistados na pesquisa são unânimes em reclamar da falta de rapidez do transporte público. Para classificar o que seria um ¿bom transporte¿, todos eles ¿ desde os que se deslocam a pé ou de bicicleta até os que utilizam ônibus e metrô ¿ apontaram essa característica como a primeira colocada entre as essenciais para um transporte de qualidade, seguida de baixo custo. Entre os que preferem o carro, o conforto é a segunda qualidade mais apontada.

O educador físico Rafael Siqueira, 29 anos, afirma que trocaria o carro por transporte público apenas se houvesse condições mais adequadas de uso. ¿Todos sabem que os ônibus que saem nos primeiros horários da manhã são mais cheios, mas não colocam mais carros para circular¿, exemplifica o morador do Lago Sul.

Só em Curitiba O corredor exclusivo para ônibus pode ser uma revolução no transporte público porque tem a mesma eficiência, qualidade e segurança do metrô, mas fica na superfície. Está presente em mais de 80 países no mundo, mas, no Brasil, foi implantado apenas em Curitiba (PR). ¿É 10 vezes mais barato que o metrô, cinco vezes mais barato que o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), melhor do que qualquer outra concepção modal¿, compara Otávio Cunha Filho, presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos.