Título: Mais polêmica no resgate dos corpos
Autor: Álvares, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2011, Brasil, p. 16

Iniciada ontem, a operação de resgate dos corpos das vítimas da aeronave da Air France que desapareceu em 31 de maio de 2009 voltou a gerar polêmica. O Escritório de Investigações e Análise (BEA, na sigla francesa), responsável pelas investigações, anunciou, na tarde de ontem, o início da retirada dos restos mortais do fundo do Oceano Atlântico. No entanto, em comunicado oficial enviado aos parentes, o órgão francês destacou que, neste primeiro momento, resgataria somente os restos de um dos mortos. ¿Caso essa manobra seja bem-sucedida, outros serão resgatados na sequência¿, consta do comunicado.

Toda essa cautela se explica pela complexidade da operação de içamento dos corpos até a superfície, já que eles podem não resistir à descompressão ¿ estão a 3,9 mil metros de profundidade. Apesar disso, a Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 cobra que os restos mortais de todas as vítimas sejam levados ao navio Ile de Sein. ¿É absurda, uma falta de respeito, a hipótese de não retirar todos do mar. Tinham que içar toda a fuselagem onde os corpos estão presos¿, destacou o presidente da entidade, Nelson Faria Marinho, que perdeu o filho no acidente.

Desde o anúncio, em 4 de abril, de que, além das peças do avião, corpos em condição de identificação haviam sido encontrados no fundo do mar ¿ a cerca de 10km de onde a aeronave apareceu pela última vez nos radares, próximo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo ¿, o assunto tem sido alvo de críticas e de desencontro de informações. Dias depois, o BEA ressaltou não saber se os corpos resistiriam ao resgate.

Causas Duas peças importantes para a possível elucidação do que provocou a queda do Air Bus A 330 já foram retiradas do oceano. Na noite de segunda-feira, o robô Remora 6000 resgatou a caixa-preta que contém registros de conversas mantidas entre os pilotos. No último domingo, a Flight Data Recorder (FDR), que grava dados do voo, como a velocidade atingida pela aeronave, já havia sido resgatada. Como estão em dispositivos compostos por material resistente, existe a esperança de que, mesmo após quase dois anos submersas, as gravações feitas pelas caixas-pretas estejam preservadas.

Os equipamentos seguem para Caiena, na Guiana Francesa, em caixas lacradas para evitar deterioração. De lá, serão enviados a Paris, onde os dados serão analisados. Caso as informações estejam intactas, todo o procedimento deve ser finalizado em duas semanas.