Título: Mais educação, menos miséria
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Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2011, Opinião, p. 26

Depois de reduzir a pobreza em 50,64% nos oito anos do governo Lula e, de 2001 a 2010, baixar a desigualdade no país ao menor patamar da história, o Brasil ainda levará três décadas ¿ se mantiver o ritmo inédito ¿ para igualar seu índice de Gini ao dos Estados Unidos, caso esse se mantenha estável. O parâmetro internacional que dá a medida da desarmonia da renda entre os habitantes de uma nação varia de zero a um, sendo que, quanto mais baixo, menores as diferenças. Enquanto o norte-americano é de 0,42, o brasileiro (cujo teto, de 0,609, foi registrado em 1990) está em 0,53.

Os dados constam de pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgada na terça-feira. No mesmo dia, cálculos preliminares do Censo 2010, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram que 8,5% dos brasileiros, ou 16,2 milhões de pessoas (o equivalente à população do Chile), sobrevivem com renda familiar per capita mensal de até R$ 70. Isso, apesar de a União assistir mensalmente a 12,9 milhões de cidadãos, por meio do Bolsa Família, com benefícios que vão de R$ 32 a R$ 242.

No último estágio da exclusão social no país, os milhões de desafortunados que formam a face da miséria nacional contam com pouco mais de R$ 2 por dia para a sobrevivência. Com essa quantia, nem dá para falar em atendimento às necessidades mínimas de alimentação, saúde, habitação, educação e transporte. Tal massa tampouco tem direito a energia elétrica, banheiro próprio e rede de esgoto, embora mais da metade, 53,3%, esteja em área urbana. Por região, é no Nordeste que se concentra a pobreza extrema: 59% do total.

Por um lado, angustia deparar-se com essa realidade. Por outro, alivia verificar que a desigualdade cai em velocidade acelerada. Na última década, a renda dos 50% mais pobres cresceu 577% mais que a dos 10% mais ricos: 67,93% contra 10,03%. ¿Não há nada similar à redução da desigualdade de renda desde 2001¿, constata o professor Marcelo Neri, economista que coordenou o estudo da FGV. ¿Estamos no sentido oposto de China, Índia, Indonésia, Estados Unidos e países da Europa.¿ Ainda segundo ele, embora a contribuição dos programas de transferência de renda, ¿o grande personagem dessa revolução é o aumento da escolaridade¿.

Está aí a indicação de claro caminho para a presidente Dilma Rousseff cumprir o compromisso assumido na campanha ¿ reafirmado na posse e prestes a ser transformado em programa de governo ¿ de erradicar a miséria em seus quatro anos de mandato. O Brasil praticamente universalizou o acesso à escola nas duas últimas décadas. Mas a taxa de escolaridade brasileira, com média de 7,2 anos de estudo, é igual à do Zimbábue, país africano com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Ou seja, nosso melhor instrumento de evolução está longe de ter a qualidade que os desafios impõem. Sem uma reforma radical no ensino, o avanço poderá até se manter. A questão é em que velocidade.