Título: Eterno cinturão de problemas
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2011, Opinião, p. 10

São antigas, repetitivas e sempre convenientes as promessas feitas ocasionalmente para abraçar a causa do Entorno do Distrito Federal com pacotes de medidas para resolver problemas de infraestrutura, segurança, saúde, transporte e educação. Os períodos mais férteis de cobranças e críticas são os das eleições majoritárias e locais nos municípios goianos e mineiros da região e os do primeiro trimestre do ano, quando Brasília começa a fazer funcionar a máquina burocrática da União e as chaves dos cofres públicos se tornam mais acessíveis.

O grito de socorro mais recente, do governador Marconi Perillo, que comanda o estado de Goiás pela terceira vez, ressoa com igual força e timbre ao de outras autoridades goianas e candangas que, sazonal e historicamente, se revezam e repetem o coro dos desvalidos com pedidos e clamores de salvação por meio de verbas públicas. Perillo sugere aos governos federal e estaduais darem-se as mãos para tirar as 22 cidades do Entono do marasmo e do atoleiro de dificuldades que emperram a dinâmica natural do crescimento.

A crise que abate o Entorno, porém, não se estabeleceu agora; vem de longos anos e nada de concreto tem sido feito para reverter a situação. No começo de 2009, o governo federal anunciou R$ 9 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para execução de obras de saneamento básico, construção de estradas, escolas, aplicações nas áreas de segurança, saúde e habitação. Dois anos depois, não se vê o resultado prático desses serviços e equipamentos. A população, estimada em 3,2 milhões de pessoas, continua desamparada em todos os setores. A região ostenta um índice de 11% de analfabetismo e possui apenas 14% de suas edificações com esgoto sanitário.

Enquanto as promessas se sucedem na ciranda do tempo e dos palanques, Luziânia, por exemplo, a maior cidade do Entorno, apresenta os mais elevados índices de violência no período de 12 meses (26%). Na área da saúde, registra este ano 2,5% de infestação do mosquito da dengue, o Aedes aegypti, muito acima do tolerado pelo Ministério da Saúde (1%). Dos 920 casos de dengue no DF e Entorno, 67% estão nesse município goiano, que também concentra uma das maiores fontes de mão de obra para a capital do país mas nada recebe em termos de retorno social.

Ainda como símbolos da crise que deprime os 20 municípios goianos e os dois mineiros que compõem a região, mata-se no Entorno 19 pessoas a cada 10 dias, segundo dados oficiais, e a situação das escolas é cada vez mais carente. Considerando-se que o Centro-Oeste é a segunda região do país que mais se expandiu economicamente na última década ¿ 20,74%, contra 9,7% do Sul e 10,97% do Sudeste ¿, com o visível impulso da expansão de suas fronteiras agropecuárias, não se explicam as dimensões de uma crise que só faz crescer e configurar uma catástrofe social sem chances de recuperação, se nada for feito. Portanto, passa da hora de sair do discurso para a prática.