Título: De olho nas eleições, PMDB faz jogo duplo
Autor: Rothenburg, Denise ; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 06/05/2011, Política, p. 4

Desconfiado dos movimentos do PT em direção às eleições de 2012, o PMDB começa a reagir em várias frentes e se prepara para enfrentar o aliado dentro e fora do governo. De um seminário internacional para tentar organizar sua comunicação à criação de armadilhas para mostrar ao Poder Executivo como um todo que a legenda é importante, o PMDB tem feito de tudo um pouco. ¿Quem faz parte do partido político quer chegar ao poder para governar a polis no município, estado ou União¿, disse o vice-presidente da República, Michel Temer, à plateia que lotou o auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, num seminário que custou aos cofres do partido R$ 114 mil, para ouvir especialistas em marketing político e trabalhar uma espécie de refundação rumo a 2012 e também a 2014.

Na última quarta-feira à noite, Temer jantou no Palácio do Jaburu com o deputado Gabriel Chalita e o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Ali, selaram o ingresso dos dois no PMDB para 4 de junho. A ideia é reunir 3 mil pessoas numa festa que se transforme em uma espécie de pré-lançamento da candidatura de Chalita à prefeitura paulistana e dar ao PMDB algum poder de fogo onde PT e PSDB se digladiam há décadas. Ontem, Temer, presidente licenciado do partido, anunciou o ingresso dos dois na sigla como um modelo de renovação. O seu substituto no comando peemedebista foi direto: ¿Assim como nós demos a vice para Dilma no plano nacional, o PT pode nos dar a vice em São Paulo. Nosso objetivo é lançar candidatos por todo o Brasil¿, disse o senador Valdir Raupp (RO).

A presença do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, à abertura do seminário de ontem, foi outro recado. Embora os peemedebistas destaquem a lealdade do partido à presidente Dilma Rousseff, a legenda não descarta concorrer à sucessão presidencial daqui a três anos e está, inclusive, fazendo pesquisas para testar seus filiados junto ao eleitorado. Cabral, como governador, é considerado um dos mais bem colocados. Além dele, aparecem Temer e o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). ¿Vamos mesmo colocar Cabral mais à vista. Afinal, temos que mostrar o que faz o PMDB¿, afirmou o presidente do Instituto Ulysses Guimarães, Eliseu Padilha, referindo-se ao governador do Rio da mesma forma que Michel Temer, na abertura do seminário. ¿Michel tem razão. Cabral fez um trabalho reconhecido nacionalmente na área de segurança pública e o PMDB não capitalizou isso¿, afirmou Padilha.

Medidas provisórias Enquanto as eleições não chegam, o PMDB trata de mostrar sua importância ao PT. Faz parte desse cenário a nomeação do senador Aécio Neves (PSDB-MG) como relator da proposta de restrição das medidas provisórias, em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça. O PT não gostou. Antes mesmo de Aécio apresentar seu relatório, o senador José Pimentel (PT-CE) bombardeava a escolha. O PMDB não pretende aprovar o relatório de Aécio, uma vez que ele não prevê a vigência automática das MPs. O líder Renan Calheiros (PMDB-AL) avisou ao Planalto que irá retomar o texto de José Sarney (PMDB-AP), considerado mais brando. Mas o governo levou um susto e o PMDB atingiu seu objetivo: mostrar que o PT vai precisar dos peemedebistas ao seu lado para derrotar o texto de Aécio.