Título: Álcool cai e alivia BC
Autor: Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 10/05/2011, Economia, p. 10

Depois de um longo período de descrédito, o Banco Central pôde respirar aliviado ontem. Pela primeira vez, em nove semanas, os analistas ouvidos pela instituição revisaram, para baixo, as estimativas de inflação deste ano: de 6,37% para 6,33%. Tanto no BC quanto no Ministério da Fazenda a visão foi a de que, finalmente, os economistas estão reconhecendo que o discurso do governo, de que o pior do processo inflacionário ficou para trás, começa a se sobrepor ao pessimismo do mercado financeiro. ¿Todos estavam apegados à inflação corrente (atual) e se negando a olhar para frente. Felizmente, essa postura está mudando¿, disse um técnico do BC.

Segundo ele, o fato de a elevação do Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter ficado em 0,77% em abril, aquém do previsto pelo mercado, e de o preço do álcool ter interrompido a trajetória de alta (caiu 20% nos últimos sete dias), fez com que os analistas dessem uma trégua ao BC. ¿A mediana das estimativas de inflação caiu porque foi a primeira vez, em cerca de seis meses, que o IPCA saiu abaixo da expectativa¿, afirmou a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander. O alento, no entanto, pode não ser suficiente para manter a inflação deste ano abaixo do teto da meta fixada para o ano, de 6,5%. ¿O Santander aposta que o IPCA fechará 2011 com 6,1%. Mas eu não descartaria a hipótese de a inflação fechar acima do teto. Minha posição pode estar sendo otimista¿, reconheceu. Nos últimos 12 meses, a alta acumulada está de 6,51%.

Fim do exagero Dentro do governo, o otimismo com a inflação vem, principalmente, da queda dos preços dos combustíveis. De acordo com o Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea/Esalq), o etanol hidratado, utilizado nos carros flex, era negociado, na semana passada, a R$ 1,06 o litro, sem incluir os custos de frete ou taxas, em queda de 20% ante a semana anterior, e quase 35% abaixo da máxima atingida na última semana de março. ¿Com o início da safra, o preço do álcool terá um belo recuo em maio, caindo 10%. Já a gasolina terá queda de 1%¿, disse o economista Fábio Romão, da Consultoria LCA. Ainda assim, é pouco para compensar a alta até agora. Em abril, a gasolina subiu 6% e o álcool, 11%.

Na avaliação do Santander, o IPCA de maio, junho e julho virão em patamares mais confortáveis e, no último quadrimestre, começarão a ser sentidos os efeitos do aperto na política monetária. Para isso, no entanto, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá, segundo o banco, de promover altas nos juros até dezembro, de modo que a taxa básica (Selic) saia dos atuais 12% para 13% ao ano. Para Fábio Romão, a inflação de maio ficará em 0,41% e a de junho em apenas 0,10%.

Além dos combustíveis, os preços dos alimentos e das bebidas também deverão interromper a disparada que ocorreu até agora. ¿Ainda haverá alta, mas será menor¿, disse Romão. Outro item cujo custo vem assustando o brasileiro é o vestuário, que já tinha subido 7,5% em 2010. Em maio, a subida chegou a 1,42% e para maio, será apenas um pouco menor segundo projeta a LCA: de 1,21%. Parte disso é consequência do fato de o momento ser de troca de coleção. Mas há ainda outro fator muito importante: o preço do algodão no atacado subiu 190% de janeiro de 2010 a março de 2011