Título: Síria intensifica repressão a manifestantes
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Fonte: Correio Braziliense, 10/05/2011, Mundo, p. 15

Evan (nome fictício), um ativista da oposição síria, vive com medo dos Mukhabarat ¿ como são chamados os homens dos serviços de inteligência do presidente Bashir Al-Assad. Por isso, ele se recusa em fornecer ao Correio sua identidade verdadeira. ¿Existe uma crença profunda entre os sírios de que qualquer um pode ser um cara da segurança disfarçado¿, afirmou. O temor aumentou depois que as forças do governo impuseram um cerco a Moadamiyah, um bairro a oeste da capital, Damasco. ¿Uma amiga que vive no distrito não foi para a universidade hoje. Tentamos contato com ela, mas o celular estava desligado. Outra colega viu blindados e um posto de controle do Exército¿, relatou Evan. ¿Não me surpreendo com isso. O regime é brutal¿, acrescentou. Segundo ele, os tanques ocuparam os bairros de Moadamiyah, Barzeh, Darayah, Zamalka e Douma logo ao amanhecer. Testemunhas contaram às agências de notícias terem escutado tiros na capital.

Outro ativista disse à reportagem, também sob condição de anonimato, que a eletricidade e os serviços de telefonia em Moadamiyah foram cortados. ¿Todas as estradas que levam ao subúrbio estão fechadas, incluindo as vicinais. Tiroteios e fumaça foram vistos em Damasco e testemunhas dizem que seis tanques estavam no centro da capital¿, descreveu. Em entrevista à rede de TV Al-Jazeera, Rami Abdul-Rahman ¿ diretor do Observatório Sírio para Direitos Humanos ¿ denunciou que as forças sírias invadiram as casas de manifestantes, na madrugada de ontem, e realizaram buscas. As operações foram feitas na cidades de Homs (centro) e de Baniyas (noroeste), nos subúrbios de Damasco e em vilarejos da região de Deraa. Em Baniyas, centenas de mulheres saíram às ruas ontem para pedir a libertação de opositores.

¿O regime sírio acha que o uso de violência vai pôr fim aos protestos, mas isso está tendo efeito reverso¿, garantiu Evan. Ele lembra que antes de os protestos começaram, em 15 de março passado, a ideia de queimar uma foto de Bashar Al-Assad era algo impensável para muitos sírios. ¿O que está acontecendo em meu país é que o governo assassina seu próprio povo, para defender sua autoridade. Desde 1963, o Partido Baath mantém-se no poder por meio da força e da repressão, e não vai abandonar o governo sem lutar ferozmente¿, admite o opositor. Entre 600 e 700 pessoas foram mortas pelas tropas do governo, e ao menos 8 mil foram presas, segundo a organização não governamental Insan.

Para o sírio Radwan Ziadeh, especialista do Instituto para Estudos do Oriente Médio na Georgetown University, não há dúvidas de Al-Assad optou pela radicalização. ¿O presidente pensa que pode terminar o levante, como o regime iraniano fez em 2009, usando a força e envolvendo o Exército. Mas a base de apoio de Al-Assad é muito pequena, diferente da do Irã¿, sustenta. Em Bruxelas, a União Europeia adotou ontem sanções contra 13 autoridades sírias e impôs um embargo à venda de armas a Damasco. As medidas entram em vigor hoje e incluem a proibição de vistos, além do congelamento de bens.

Iêmen Cinco manifestantes morreram na repressão das forças de segurança iemenitas em Taez, 250km ao sul da capital, Sanaa. Testemunhas afirmaram que as tropas leais ao presidente Ali Abdullah Saleh usaram bombas de gás lacrimogêneo e abriram fogo com munição letal contra centenas de pessoas que se reuniam na principal avenida da cidade. Pelo menos 15 manifestantes ficaram feridos, três deles em estado grave. (RC)

Otan sob suspeita de omitir socorro A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) defendeu-se da acusação de que teria omitido socorro a um grupo de imigrantes africanos que tentavam chegar à ilha de Lampedusa, no sul da Itália. O jornal britânico The Guardian afirmou que um porta-aviões da aliança ignorou pedidos de ajuda da embarcação, apesar de ter sido constatado o risco de naufrágio. A porta-voz da coalizão militar internacional, Carmen Romero, respondeu que a informação é falsa, e que o único navio sob o comando da Otan na data era o italiano Garibaldi, que ¿estava a mais de 100 milhas náuticas da costa líbia¿. A acusação se estende à Guarda Costeira italiana, que teria ignorado um alerta emitido pelos africanos. Depois de 16 dias à deriva, 61 pessoas morreram de sede e fome, entre mulheres e crianças. A embarcação transportava 72 imigrantes que estavam radicados na Líbia, entre eles 47 etíopes, sete nigerianos, sete eritreus, seis ganenses e cinco sudaneses. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) alertou que o Mar Mediterrâneo não pode virar ¿terra de ninguém¿.