Título: Escolas ficam sem merenda
Autor: Tolentino, Lucas ; Laboissière, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2011, Cidades, p. 27

O sistema de ensino público do Distrito Federal começou a sentir os efeitos da paralisação dos auxiliares de educação, iniciada na última segunda-feira. Um terço dos colégios tiveram de encerrar as atividades mais cedo ontem em decorrência da falta de merendeiras para fazer o lanche dos alunos. Para piorar, os grevistas decidiram interromper o abastecimento de comida para as escolas. Os caminhões não entram nem saem do depósito, localizado no Setor de Indústrias e Abastecimento (Sia), onde há mais de 200 toneladas de alimentos estocados.

Os servidores, entre eles técnicos e vigilantes, também bloquearam o acesso ao prédio da Secretaria de Educação. O governo classificou o piquete como um episódio de radicalismo. Cerca de 100 integrantes do Sindicato dos Auxiliares da Administração Escolar (Sae) chegaram cedo à sede do órgão, na 607 Norte, e impediram o ingresso de funcionários administrativos e professores que trabalham no edifício. Nem mesmo o secretário adjunto de Educação, Erasto Fortes, conseguiu passar do hall de entrada. Outros servidores relataram ter levado empurrões e afirmaram que os grevistas foram truculentos. ¿Não foi pelo ponto de vista físico, mas houve agressão pela forma como o sindicato resolveu agir. Foi uma agressão ao direito de ir e vir¿, definiu Erasto.

Os manifestantes prometeram continuar, hoje, a impedir o abastecimento de merenda às escolas, além de retomarem o bloqueio à Secretaria. No entanto, uma liminar da 3ª Vara de Fazenda Pública expedida ontem à noite estipula multa de R$ 10 mil para o Sae caso os manifestantes voltem a fazer esse tipo de protesto.

O movimento grevista atingiu menos de 30% dos colégios da rede, segundo as estimativas da Secretaria de Educação. Já o Sindicato dos Auxiliares da Administração Escolar (Sae) calcula que 70% das escolas tenham sido afetadas. Além de prejudicar as atividades escolares, a paralisação levou a diretoria da pasta a procurar alternativas judiciais para acabar com o movimento. A chefia do órgão pediu à Procuradoria-Geral do DF que apresente ação com o pedido de ilegalidade da greve.

As escolas sofrem os impactos da greve. Em muitas delas, as aulas só ocorreram em função do grande número de funcionários terceirizados. Dos quatro agentes da portaria do Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb), apenas Eliana de Jesus da Silva, 50 anos, foi trabalhar. Mesmo assim, ela pensa em aderir ao movimento. ¿Como estava de atestado, confesso que nem sabia da greve. Além do mais, estou em processo de transferência para outra escola. De toda forma, a segurança daqui fica comprometida¿, afirmou. Uma única funcionária desenvolve o serviço interno da instituição, pois o restante está em greve.

Cerca de 15 mil pessoas integram o quadro de auxiliares na ativa e a direção do Sae estima adesão da maioria. Segundo a Secretaria de Educação, o Guará foi a região menos atingida. A Diretoria Regional de Ensino da cidade calcula que apenas 10% do quadro de concursados da área de assistência à educação tenham realmente aderido à greve. Mas o órgão não descarta a possibilidade de o índice crescer. A maior carência na região é de profissionais nas funções de auxiliar de limpeza e vigilância.

No Centro de Ensino Fundamental 1 da região, o fechamento da secretaria ainda não interferiu no andamento das aulas. Porém, segundo a vice-diretora da instituição, Tereza Cristina Levy, os serviços estão debilitados. ¿Normalmente, temos três pessoas executando essas tarefas burocráticas, mas duas estão faltando. Além disso, três dos seis profissionais encarregados da merenda não estão vindo¿, informou. ¿A distribuição de comida às crianças não foi interrompida ou sofreu atrasos, mas acho que o trabalho nas escolas é feito por um todo, portanto, esse pessoal faz falta¿, conclui.

Sem abastecimento A merenda corre o risco de acabar nas cantinas das escolas. O depósito do SIA permanecerá fechado enquanto governo e grevistas não chegarem a um acordo. Segundo Mauro Loureiro, integrante do sindicato e funcionário do complexo onde fica o galpão, um caminhão de arroz foi impedido de entrar no local.

Nenhum veículo carregado de alimentos deixa a área para fazer o abastecimento dos colégios públicos. ¿Os alimentos que já estão lá não são perecíveis e não vão estragar¿, tranquiliza Loureiro. Para a Secretaria de Educação, porém, a barricada na entrada do depósito deve provocar um dos maiores prejuízos causados pela paralisação.

Os carros destinados às atividades administrativas do órgão estão parados no estacionamento do complexo do Sia. Os serviços gráficos e de marcenaria desenvolvidos na região também não são feitos. Com a interrupção dos trabalhos em variados setores da secretaria, a categoria reivindica, entre outros itens, a realização de concurso público, a reformulação da carreira e o reajuste salarial de 13,8%.

Efetivo de funcionários

Estimativa de terceirizados e concursados na área de assistência à educação: Área Terceirizados Concursados Cozinha - 30% - 70%

Secretaria - 30% - 70%*

Vigilância - 50% - 50%

Portaria - 50% - 50%

Limpeza - 40% - 60%

*Dentro desse percentual há também professores que atuam em cargos administrativos.