Título: A copa esquecida
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2011, Política, p. 4

Dentro de um ano, o Brasil sediará a ¿Copa da Sobrevivência¿, como bem define o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Serão quatro dias em que chefes de Estado de todo o planeta vão discutir a governança global, repensar as instituições e as atitudes de cada país em busca do chamado desenvolvimento sustentável. À exceção do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, e de alguns gatos pingados na política, nem governo e nem oposição parecem ter entendido até agora a importância da Rio 20, também chamada de Cúpula da Terra.

Ali, não estará em discussão apenas se está chovendo demais, ou o que fazer para que um novo tsunami não arrase novamente o Japão ou uma paradisíaca ilha no Pacífico. A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) vai muito além disso. Trata de cobranças, de colocar o dedo na ferida daqueles que não querem dar a sua parcela de contribuição ¿ desde os deputados que desejam um Código Florestal mais brando para o Brasil até os Estados Unidos, que, no passado, se recusaram a assinar o tratado da Biodiversidade.

Até o momento, houve poucas falas da presidente Dilma Rousseff e dos políticos ressaltando a Rio 20, embora, nos bastidores de seu governo, todos tratem do tema como a prioridade zero, conforme informamos hoje no Correio. Lula, quando presidente, fez muito mais carnaval com o Mundial da Fifa em 2014 e as Olimpíadas de 2016 do que com a Conferência da Terra, que está muito mais próxima no calendário. Talvez porque não dê tanto Ibope quanto o futebol.

Dilma, entretanto, tem ciência da importância do evento ¿ referiu-se a ele em alguns dos pronunciamentos que fez na China. Mas ainda é pouco, dada a relevância do tema e a chance de o Brasil se posicionar bem ali, em termos de governança e modelo de desenvolvimento. A um ano do evento, era para o governo estar tão atento ao assunto como está para a eleição dos prefeitos. E os partidos políticos também.

Embora alguns senadores se mobilizem em prol da conferência, não se vê um só movimento de cúpula dos partidos. Nem de governo e nem de oposição. Vai ver que é por isso que, chega a hora da eleição, fica tudo muito igual. Ninguém toma a frente de nada para debater com antecedência. O PT, em vez de ter feito uma reunião do Diretório Nacional para restabelecer o mensaleiro Delúbio Soares, poderia ter discutido como ajudar a organizar esse evento mundial. Já vi Lula se mexer para tratar da reforma política e ganhar dinheiro com palestras. Mas não ouvi uma só palavra dele de que usará o seu prestígio lá fora em prol da conferência que discutirá os rumos do planeta.

Ninguém se preocupou em realizar a ¿Copa das Confederações¿ da Rio 20, como terá a de futebol em 2013. No fim de abril passado, houve apenas uma reunião acanhada no Rio de Janeiro, para levantar temas ao evento, e uma comissão de senadores foi visitar as obras. Ou o governo e os partidos políticos começam a se mobilizar já pela grande conferência, ou o PT vai perder para Fernando Collor. Na época da Rio-92, ou Eco-92, Collor já estava na berlinda. Seu irmão, Pedro, havia dado entrevista no mês anterior detonando o governo. Ainda assim, justiça seja feita, ele soube manter a pose e fazer do evento um sucesso. O mínimo que se espera agora é que a turma de Dilma faça o mesmo. Se ela não começar a cobrar desde já a presença de Barack Obama, por exemplo, é difícil que ele venha correr riscos de perder votos aqui como, ocorreu como George Bush, o pai, em 1992.