Título: Bin Laden teve ajuda no Paquistão, diz Obama
Autor: Seixas, Maria Fernanda ; Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2011, Mundo, p. 12
Uma entrevista de Barack Obama, divulgada ontem pela rede de tevê CBS ao programa 60 minutes, deixou ainda mais tensa a relação entre os Estados Unidos e o Paquistão. Para o presidente norte-americano, o terrorista saudita Osama bin Laden certamente contava com uma rede de apoio dentro do país árabe. Obama não acusou diretamente o governo, tampouco eximiu-o da culpa. ¿Bin Laden teve algum tipo de cobertura no Paquistão, que deveria ter sido investigada pelos serviços secretos do país¿ Não sabemos, entretanto, quem ou que tipo de rede era. Não sabemos se pode haver gente dentro do governo ou fora, e isso é algo que precisamos investigar e, mais importante, é algo que o governo paquistanês precisa investigar¿, declarou. O líder da rede Al-Qaeda foi morto na madrugada do dia 2, durante operação realizada pelos Seals, a força de elite da Marinha norte-americana, em um casarão em Abbottabad, a 60km de Islamabad.
Convidado a vários debates dominicais nas principais redes de tevê americanas, Tom Donilon ¿ conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca ¿ reforçou a pressão sobre o Paquistão e defendeu uma investigação sobre o paradeiro do extremista. ¿Não temos nenhuma prova de que o governo de Islamabad soubesse¿, acrescentou, tentando pôr panos quentes na polêmica. No entanto, ele assegurou: ¿Bin Laden teve redes de apoio em Abbottabad¿. O assessor de Obama foi categórico ao afirmar que o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, precisa explicar ao mundo como Bin Laden viveu durante seis anos tão próximo da capital e a cerca de 700m da maior academia militar do país, sem ser notado. Ainda assim, Donilon reconheceu que não há provas dessa possível relação, tampouco da derrocada da organização extremista. ¿A esta altura, não podemos declarar que a Al-Qaeda foi estrategicamente vencida¿, disse o conselheiro.
O governo paquistanês, que desde a década de1980 recebe bilhões de dólares dos Estados Unidos para custear a luta contra o terrorismo, respondeu às insinuações afirmando à Casa Branca que tem profundo interesse em conhecer que tipo de rede de apoio Bin Laden poderia ter tido. O embaixador do Paquistão nos Estados Unidos, Hussain Haqqani, assegurou punição exemplar, caso fique comprovado o envolvimento de setores do governo na suposta cobertura ao terrorista. ¿Cabeças vão cair assim que a investigação for concluída. A investigação está em andamento e aplicaremos tolerância zero caso se descubra cumplicidade¿, prometeu.
Hasan-Askari Rizvi, estrategista militar da Universidade do Punjab (em Lahore), afirmou ao Correio que não existem provas concretas de que oficiais do país tenham protegido Osama bin Laden durante sua permanência em Abbottabad. ¿Toda a informação é especulativa. O próprio Donilon disse não ter provas da participação do Paquistão. Creio que as autoridades paquistanesas não tinham qualquer informação sobre Bin Laden. Mas ele pode ter se beneficiado de uma base de apoio não-oficial de partidos islâmicos ou de grupos políticos voltados mais à direita¿, observa o paquistanês. O estudioso sublinha que a crise de confiança entre os EUA e o Paquistão persistirá. ¿No entanto, as relações não chegarão ao ponto de ruptura, pois ambos precisam um do outro para conter o terrorismo¿, completou.
Imtiaz Gul, diretor do Centro para Pesquisas e Estudos sobre Segurança (em Islamabad) e autor de A conexão Al-Qaeda ¿ o Talibã e o terror em áreas tribais, disse à reportagem acreditar que alguns funcionários do serviço secreto paquistanês Inter-Services Intelligence (ISI) sabiam sobre Bin Laden. ¿Não creio que fosse do conhecimento da cúpula da agência de inteligência, porque isso não beneficiaria o país. Bin Laden era muito mais um motivo de vergonha para o Paquistão.¿
De acordo com Obama, as questões envolvendo um suposto elo entre Bin Laden e Islamabad não serão respondidas em três ou quatro dias. ¿Levaremos um tempo para poder aproveitar o material de inteligência que obtivemos¿, explicou, antes de assegurar que os EUA têm a chance de desferir um ¿golpe fatal¿ na Al-Qaeda. O material ao qual Obama se refere foi chamado de ¿verdadeiro tesouro¿ por Donilon. São arquivos que, segundo a CIA (Agência Central de Inteligência), teriam o tamanho de uma pequena biblioteca universitária. ¿Se descobrirmos qualquer informação sobre o planejamento ou sobre ameaças iminentes, obviamente agiremos¿, garantiu. Um oficial do governo paquistanês contou à TV americana ABC News que elementos da inteligência paquistanesa ¿ rebeldes ou aposentados ¿ estavam envolvidos ¿no auxílio, na cumplicidade e na hospedagem do líder da Al-Qaeda¿.
Decisão acertada
O presidente Barack Obama tem o apoio da maioria dos norte-americanos na decisão de não divulgar as fotos do corpo de Osama bin Laden. De acordo com pesquisa encomendada pela NBC, quase dois terços dos norte-americanos consideram a medida acertada. Em entrevista ao programa 60 Minutes da CBS, na semana passada, Obama argumentou que a exibição das fotos de Bin Laden poderiam incitar a violência e serem usadas como uma ferramenta de propaganda da Al-Qaeda. Na sondagem da NBC, 24% dos entrevistados defenderam a liberação das imagens.