Título: Cristal quebrado
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2011, Política, p. 2

A votação de um tema tão polêmico como o Código Florestal expôs a fragilidade dos líderes partidários para tratar de assuntos que fogem à tradicional divisão de governo contra oposição. Na base aliada, nenhum deles conseguiu, nas últimas 48 horas, dar ao Palácio do Planalto a certeza de que o texto do acordo seria aprovado na íntegra. Nem mesmo tiveram controle sobre as bancadas para expor aos próprios parlamentares qual era o acordo que estava valendo, já que o próprio líder do PT, Paulo Teixeira, acusou o relator, Aldo Rebelo, de apresentar ao plenário um texto diferente daquele que havia sido acordado ¿ o que serviu de estopim para a desconfiança que terminou por adiar mais uma vez a votação.

Por causa dessas acusações de fraude no relatório, o trabalho maior a partir de agora não será o de chegar a um acordo quanto ao mérito do Código Florestal ¿ um tema em que, à exceção do PV, mais fechado com a preservação, divide todos os partidos. A ordem agora será restabelecer a confiança entre os líderes, abalada com a confusão da madrugada de ontem e a perspectiva de que o acordo não seria cumprido à risca por ruralistas e ambientalistas.

E se tem uma coisa que no parlamento vale ouro é a palavra empenhada. Acordo feito não pode ser quebrado nem colocado sob suspeita. Quando isso ocorre, a fragilidade surge. E aí, é como cristal quebrado. Ninguém cola. Talvez agora só mesmo a presidente Dilma, que não tem lá muita paciência com os meandros da política, para colocar a base nos eixos. (DR)