Título: O bullying de Mantega
Autor: Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2011, Economia, p. 10

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda não reagiu publicamente à provocação que recebeu do norte-americano Paul Krugman. O colunista e Nobel de Economia acusou o brasileiro de estar fazendo bullying (termo que descreve abuso contínuo, físico ou verbal, geralmente entre estudantes) ao Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, com objetivo de pressionar a autoridade monetária a elevar a taxa básica de juros daquele país. Para Mantega, com o dinheiro mais caro nos EUA, diminuirá sensivelmente a migração de dólares para países emergentes, que tem valorizado as moedas locais e provocado inflação. O ministro, por sinal, conseguiu incluir esse tema na pauta da Organização Mundial do Comércio (OMC), a despeito da oposição dos norte-americanos e chineses.

Na edição on-line do jornal The New York Times, Krugman analisou a persistente condenação do Brasil à guerra cambial que seria provocada pelo Fed, sob o comando de Ben Bernanke. Para o Nobel de Economia, a crítica tem a pretensão de levar a maior economia do mundo a ¿abandonar a sua política monetária independente¿ para que as economias emergentes ¿não tenham que encarar a escolha entre a valorização cambial e a inflação importada¿.

¿Este mundo confuso está criando dilemas para pessoas como, digamos, o ministro da Fazenda do Brasil. Aqui, na América, não existe dilema: é emprego, emprego, emprego¿, alfinetou Krugman. Ele sugeriu a Mantega como remédio contra a valorização do real a adoção de mais controle no ingresso de capitais.

Krugman até elogiou os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) por não terem repetido o desleixo de EUA e Europa na fiscalização de bancos, que levaram à crise internacional de 2008 e 2009. Mas logo depois os critica ao dizer que a única inflação que ameaça os EUA atualmente é a das commodities, puxada pela crescente demanda dos países emergentes. ¿Quanto às reclamações de outros países, de que têm inflação porque estamos imprimindo dinheiro, a resposta insolente é: não é problema nosso, caras¿, sintetizou.

ITAÚ VÊ INFLAÇÃO DE 6,5% O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mostrou que jogou a toalha quando o assunto é o centro da meta de inflação em 2011. Durante o Seminário de Metas para a Inflação, no Rio de Janeiro, ele deixou claro que alcançar os 4,5% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda este ano é impossível. A missão, agora, é fechar o ano com a inflação o menos distante dessa marca. O Itaú Unibanco refez seus cálculos e pondera que a carestia ficará colada exatamente no limite de tolerância da meta: 6,5%. Alguns especialistas vão além e afirmam que esse teto tende a ser rompido, mas Tombini descarta tal possibilidade.