Título: Óxi tem de ser contido antes que se dissemine
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Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2011, Opinião, p. 12

A notícia de que o óxi avança no território brasileiro agrava um problema já bastante grave. A droga tem efeitos mais devastadores que o crack. Resultado de mistura da pasta base da cocaína com querosene e cal virgem, causa dependência no primeiro uso. Pior: arrasa o organismo com rapidez assustadora. Ataca os rins, rouba o peso, provoca diarreia, vômito e perda dos dentes. O caminho para a morte é rápido e degradante.

Trata-se de questão de saúde pública e segurança que exige providências imediatas. O óxi não é novo. Mas chegou ao país pela fronteira com a Colômbia e a Bolívia em meados da década passada. Manteve-se restrito a estados da Região Norte, onde crianças e jovens o consomem à luz do dia. Em Rio Branco, capital do Acre, a situação assusta autoridades e a população. O vício ameaça atingir a dimensão de epidemia. Mais barata que o crack, a droga atrai rapazes e moças de baixa renda que se mantinham à margem do consumo por motivos financeiros.

Há suspeita de que o óxi tenha atravessado os limites que a mantinham restrita às unidades da Federação situadas no norte do país. Apreensões em Minas Gerais, Bahia e Goiás acenderam a luz vermelha. A polícia aguarda o laudo pericial para confirmar a tragédia. Na capital paulista, agentes do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) encontraram cerca de mil pedras escondidas em hotel da Cracolândia, região assolada pelo crack. Ali, andrajos humanos perambulam pelas ruas na busca desesperada pelas pedras mortais.

Impõem-se medidas imediatas. Elas precisam conjugar esforços de prevenção, repressão e tratamento. Reforçar a vigilância da fronteira do Brasil com a Bolívia e a Colômbia deve constituir prioridade número um. Não significa se deter com o mesmo cuidado na vasta área. Mas ater-se aos pontos vulneráveis. O crime organizado precisa de bancos, estradas e transporte. É nos municípios dotados de infraestrutura que ele se movimenta. Há que verificar o potencial econômico da cidade para atacar a economia movimentada pela bandidagem.

Mais: é necessário evitar a produção da droga em território nacional. Não se faz cocaína, crack ou oxi sem insumos químicos. A fiscalização deve ser eficaz para evitar a concretização do negócio. Não só. A droga é um dos combustíveis da violência urbana. Rouba-se e mata-se com a naturalidade de quem dá uma volta na praça. O Brasil precisa traçar verdadeira política de combate ao mal. Ela passa por prevenção, repressão e principalmente cuidado com a parte que nos toca. Sem isso, fica o recado do oxi: o pior pode piorar.