Título: Anistia festeja as rebeliões árabes
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2011, Mundo, p. 15
Os movimentos populares pela democracia no Oriente Médio e no norte da África são uma oportunidade sem precedentes para mudar a situação dos direitos humanos no mundo, mas a reação violenta dos governos locais desperta preocupação. O alerta é do informe anual da Anistia Internacional, que será lançado hoje. A edição de 2011 destaca o papel das crescentes demandas por liberdade e justiça nos países árabes em consonância com a emergência das mídias sociais, que criaram um outro mundo de ativismo digital.
No Brasil, o estudo mostra que muitas comunidades continuam a enfrentar abusos, como despejos forçados e falta de acesso a serviços básicos. Em entrevista ao Correio, o especialista da Anistia Internacional em Brasil, Patrick Wilcken, aponta, porém, que o país tem dado passos importantes no governo de Dilma Rousseff (leia abaixo).
A organização não governamental, que festeja neste ano o cinquentenário, investigou casos de violações em 157 países. Foram documentadas restrições à liberdade de expressão em pelo menos 89 nações, casos de prisioneiros de consciência em 48 e registro de episódios de tortura e maus-tratos em 98. O informe destaca alguns momentos marcantes em 2010, como a libertação da oposicionista Aung San Suu Kyi, em Mianmar, e a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo.
O secretário-geral da AI, Salil Shetty, observou que o ano passado será lembrado como um ¿divisor de águas¿, uma vez que as novas tecnologias foram usadas para ¿afirmar a verdade frente aos poderosos e exigir maior respeito aos direitos humanos¿.
Mártir O estudo lembra o caso do vendedor de frutas tunisiano Mohamed Bouazizi, que em dezembro de 2010 ateou fogo ao próprio corpo para protestar contra o assédio da polícia, a humilhação, as dificuldades econômicas e a sensação de impotência vivido por jovens como ele. Segundo a Anistia, o ato de autoimolação acabou por liberar uma pressão ¿há muito acumulada contra o governo opressor¿. A onda de manifestações levou à queda do ditador Zine El-Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011. Pouco tempo depois, a agitação na Tunísia se alastrou a outras nações do norte da África e do Oriente Médio, e desde então derrubou também o presidente egípcio, Hosni Mubarak.
¿Os movimentos conseguiram acabar com regimes autoritários, mas ainda há muitos problemas pela frente¿, ponderou Wilcken.
O site Wikileaks também ocupou um lugar de destaque em 2010.
O informe da AI considera que o site, que se dedica a publicar informações de uma ampla variedade de fontes, mudou as regras do jogo no que se refere ao domínio da informação. ¿Até o surgimento do Wikileaks, os governos pareciam acreditar que tinham o controle da situação.¿
Apesar de uma nova disposição em confrontar tiranias, a liberdade de expressão está sob ataque em todo o mundo. Segundo a Anistia, governos da Líbia, do Iêmen, da Síria e do Barein mostram-se dispostos a espancar e matar os opositores para permanecer no poder.