Título: Reclamações contra salários de deputados
Autor: Kleber, Leandro ; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2011, Política, p. 5

Diferentemente do biênio 2009-2010, quando 64% das mensagens enviadas pela população ao site da Ouvidoria Parlamentar da Câmara dos Deputados tinham pedidos pessoais feitos a parlamentares ou a órgãos públicos, a participação popular em 2011 está mais focada em assuntos do Congresso. Um levantamento realizado Casa mostra que mais de 2 mil mensagens já foram registradas na página eletrônica do órgão, sendo que a maioria delas de críticas ao aumento de 62% no salário dos parlamentares e ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que fez declarações polêmicas em um programa de televisão.

A maior parte dos comentários é feita por homens (68% do total), pessoas que declaram ter ensino superior (24%), com idades entre 31 e 40 anos ( 18%) e moradores de São Paulo (24%) . O Distrito Federal, que sedia o Congresso Nacional, aparece apenas em quinto lugar.

O novo ouvidor da Câmara, deputado Miguel Correa (PT-MG), garante que as manifestações não estão passando despercebidas. Segundo ele, a partir dos dados colhidos por meio da opinião dos brasileiros, alguns projetos de lei serão propostos este ano. A ideia é unir por temas e consolidar em propostas que tenham caráter de iniciativa popular. ¿ Temos pelo menos 11 matérias pré-definidas que partiram de sugestões este ano e que devem virar requerimentos e projetos. Nossa ideia é transformar a corregedoria em um órgão mais propositivo¿, diz o parlamentar.

Gays Este ano, a participação popular teve dois picos: as afirmações de Jair Bolsonaro (PP-RJ) sobre gays e a votação do Código Florestal. As reclamações contra declarações homofóbicas do parlamentar foram encaminhadas ao seu gabinete. Já quanto ao Código, a Ouvidoria precisou filtrar as manifestações que chegaram, já que muitas delas deixavam claro tratar-se de movimentos orquestrados por setores específicos.

¿Algumas mensagens eram as mesmas, mudando apenas o nome do remetente. Nesses casos, em que percebemos que não é uma manifestação espontânea, desconsideramos as mensagens¿, conta o ouvidor. Para comentar os assuntos tratados na Câmara, o internauta precisa entrar na página da Casa e clicar em ¿participe¿, ¿fale com a ouvidoria¿. Basta apenas informar o nome, o sexo e a idade e escrever o que bem entender. Há ainda a possibilidade de encaminhar as mensagens diretamente ao parlamentar escolhido, mas essas informações não são compiladas pela Ouvidoria.

Os registros feitos pela ouvidoria têm deixado claro o desconhecimento dos brasileiros sobre a atuação parlamentar. Quase metade das manifestações registradas no último ano tratava de temas que não tinham ligação com a Câmara. Entre pedidos de ajuda para pagar contas e reclamações sobre decisões do governo, os brasileiros demonstram confundir os papéis dos Poderes e as reais prerrogativas da Câmara e de seus integrantes.

¿Nesses casos, que são muitos, apenas orientamos e encaminhamos as pessoas aos órgãos competentes, para que possam reclamar e sugerir para as pessoas certas. Muita gente desconhece o que cada órgão faz. Isso tem nos impressionado bastante¿, comenta Correa.