Título: Brasil criará mais barreiras a importados
Autor: Ribas, Sílvio ; Freitas, Jorge
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2011, Economia, p. 19

Pressionado pelo setor produtivo e diante do insucesso das medidas para conter a valorização do câmbio, o governo brasileiro admitiu que recorreu ao protecionismo para conter a invasão de importados, começando pelo setor automotivo. E avisou que tomará outras medidas para proteger a produção e os empregos locais. Na avaliação do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Fernando Pimentel, ficou claro que as ações para conter a valorização do real frente ao dólar não foram suficientes para garantir a competitividade da indústria nacional. Trata-se do primeiro recuo expressivo na abertura comercial do país iniciada nos anos 1990.

¿Não podemos ficar parados assistindo a nossa indústria ser devastada pela taxa de câmbio, que não vai mudar no curto prazo¿, afirmou Pimentel. ¿Há gente que acha que a medida para os carros tem a ver com a Argentina. Não é assim. É parte de uma grande estratégia para proteger a nossa indústria, não é uma guerra comercial com ninguém¿, acrescentou. Ele avisou que sua pasta prepara outras medidas para proteger a indústria local do real valorizado, incluindo a investigação da entrada no país de produtos oriundos da China com origem creditada a terceiros países.

A aplicação de licenças não automáticas à entrada de carros, peças e pneus no país gerou complicações com 2,7 mil veículos que não puderam ingressar ao Brasil quinta-feira e disparou rápida reação do Ministério da Indústria da Argentina. A ministra Débora Giorgi disse que o Mdic está atuando de forma intempestiva e sem aviso, afetando metade do comércio bilateral. Para ela, que teria sido informada das barreiras pelo setor privado, esse tipo de comportamento vai contra o diálogo dos sócios majoritários do Mercosul e o compromisso assumido pelos governos do Brasil e da Argentina de equilibrar a balança bilateral.

Dúvidas O presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), José Luiz Gandini, disse que carros importados vão desembarcar nas próximas semanas, quando serão solicitadas licenças para novas aquisições. ¿O governo disse que não haverá restrição, mas monitoramento. Por isso, esperamos liberação de guias já na próxima segunda-feira¿, afirmou.

Em nota, a entidade que representa 30 marcas importadas, afirmou que concorda com as barreiras levantadas aos argentinos, em resposta a medidas protecionistas contra produtos brasileiros impostas, principalmente, pela Argentina. ¿Mas não concordamos com a extensão da medida a veículos de outros países¿, assinalou o presidente da Abeiva.

Danilo Fonseca, gerente comercial da Grand Premier Veículos, revendedora Nissan em Brasília, disse que, no primeiro dia de vigência das barreiras criadas pelo governo aos veículos importados, o movimento da loja foi normal. ¿Comprei carro da indústria hoje (ontem) e não recebemos nenhuma orientação em relação a essa medida que estamos acompanhando pelos jornais. Não sabemos se haverá sanções para carros vindos do México, de onde importamos nossos veículos¿, enfatizou.