Título: A guerra territorial pelos votos
Autor: Maakaroun, Bertha
Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2011, Política, p. 9

A menos que ocorra um grave revés na estabilidade econômica e a inflação saia do controle, em 2014, tucanos e petistas vão travar no país uma nova guerra pelo Palácio do Planalto a partir das mesmas bases territoriais conquistadas ao longo das duas últimas décadas. As fortalezas foram erguidas sob bases bem definidas. Enquanto os tucanos lançaram mão de políticas públicas voltadas ao setor agrário durante os anos Fernando Henrique Cardoso, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva utilizou, principalmente, o Bolsa Família para arregimentar eleitores. O domínio dos territórios do PSDB (as fronteiras agrícolas do Centro e do Sul) e de Lula (o Nordeste e o Norte) persiste ao longo dos pleitos e dá a dimensão geográfica desse enfrentamento.

Um estudo realizado pela pesquisadora Sonia Terron, engenheira cartógrafa e doutora em ciência política, indica que, em 2010, Lula transferiu para Dilma Rousseff integralmente os seus territórios, nitidamente marcados nas regiões Norte e Nordeste do país. As ¿terras¿ conquistadas pelo Bolsa Família mancham de vermelho o mapa nas cidades daquelas regiões em que o impacto econômico do programa sobre a vida do município foi mais significativo. Também nas eleições do ano passado, os tucanos voltaram a se beneficiar das políticas públicas alavancadas por FHC em favor do agronegócio no fim da década de 1990. De lá para cá, o voto tucano se consolida ao longo das fronteiras agrícolas, marcando de azul as cidades do Centro e do Sul.

¿Quando se verifica a coesão de um território em uma eleição, que são as manchas azuis ou vermelhas no mapa, no pleito seguinte essas áreas não migram abruptamente para o outro extremo. O partido adversário pode até tentar avançar naquela fortaleza, mas dificilmente vai predominar¿, diz Sônia, que, ao longo dos últimos 20 anos, dedica-se à análise da competição eleitoral no território brasileiro.

No ano passado, entretanto, houve um fenômeno inédito: Lula fez a transferência exata de um território para Dilma Rousseff. Na avaliação da pesquisadora, a manobra foi resultado de uma década de esforços. Com o Bolsa Família, o ex-presidente não apenas se tornou maior do que o PT, como se descolou das bases territoriais que identificaram a legenda nas últimas duas décadas.

Variável Uma mudança na configuração das fortalezas eleitorais petistas e tucanas em 2014 só ocorrerá diante de uma guinada na economia ou algum outro fenômeno de grande extensão. ¿É a única variável que pode desestabilizar esse modelo espacial¿, explica a pesquisadora. A tendência é de que Dilma, ao concorrer à reeleição, mantenha coesão sobre os seus territórios no Norte e no Nordeste. ¿Da mesma forma, o PT terá muita dificuldade de chegar ao Centro e ao Sul do país. As eleições de 2006 e de 2010 replicam a mesma lógica espacial. Mantida as atuais condições da economia, em 2014, petistas e tucanos voltarão a se enfrentar respaldados, cada qual, pelas mesmas fortalezas eleitorais¿, considera.