Título: País gelado, educação aquecida
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2011, Brasil, p. 10

A cena pitoresca de alguns alunos andando de meias pelos corredores de uma escola da fria Helsinki, capital da Finlândia, é uma demonstração clara de que a educação não tem nada a ver com repressão. Vestidos da maneira que acham mais confortável, meninos e meninas assistem compenetrados às aulas em salas de aula com poucos estudantes, professores bem capacitados ¿ todos, sem exceção, independentemente do curso que ensinam, precisam ter, pelo menos, mestrado ¿ e estrutura física invejável. Os velhos quadros-negros, rabiscados com giz, foram substituídos por plataformas interativas, que lembram iPads gigantes pendurados nas paredes.

Apesar da aparente perfeição, o sistema educacional finlandês também tem seus problemas, incluindo a reclamação dos profissionais por salários maiores e o crescente número de ocorrências de bullyng. Então, por que a carreira de professor continua sendo uma das mais respeitadas do país? Por que somente 10% dos que aspiram um emprego na área conseguem? Esse fato, aliás, leva o governo finlandês a afirmar que, também por isso, somente os melhores e mais motivados profissionais são escolhidos, garantindo a qualidade do ensino.

De acordo com a vice-diretora-geral do Departamento de Comunicação e Cultura do Ministério do Exterior da Finlândia, Piritta Asunmaa, isso pode ser explicado por fatores como tradição, reconhecimento social e orgulho em exercer a profissão. Os resultados são latentes e a Finlândia se mantém, há muitos anos, nas primeiras colocações na classificação das provas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O Pisa é um programa de avaliação comparada, desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com o objetivo de avaliar as políticas desenvolvidas dos países participantes.

A comparação entre Brasil e Finlândia é perigosa por uma série de fatores que diferenciam os dois países. No entanto, a simplória explicação de que a remuneração dos professores finlandeses é suficiente para mantê-los em sala de aula não basta. A média salarial desses profissionais é de 3 mil euros e a variação mesmo para quem trabalha nas universidades não é tão grande. E as reclamações por parte do sindicato dos professores de lá existem e não são poucas. Ainda assim, a profissão é uma das mais citadas entre os alunos quando são perguntados em que gostariam de trabalhar.

Lá, a maioria esmagadora das escolas são públicas e mesmo as particulares também são subsidiadas pelo governo. Isso acontece porque elas são instituições sem fins lucrativos e essa questão recebe uma rigorosa fiscalização. Todo o lucro obtido por essas instituições é, necessariamente, investido em melhorias na própria educação dos alunos.

Mesmo sem abundância de recursos naturais, a boa formação de profissionais e excelente educação garantem à Finlândia um dos melhores índices de qualidade de vida do mundo. A Nokia, empresa líder mundial em comunicação móvel, por exemplo, é finlandesa. A indústria de design do país também está entre as mais elogiadas do planeta. Até mesmo o joguinho Andry Birds, que virou febre entre os usuários de iPhone e iPad e passou alguns meses entre os mais vendidos da loja virtual da Apple, foi desenvolvido por designers finlandeses. Os cidadãos da terra do papai noel garantem: tudo isso vem da educação oferecida no país. (IS)

* O repórter viajou a convite da Embaixada da Finlândia no Brasil