Título: Inflação e câmbio entre os vilões
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2011, Cidades, p. 34

A exorbitante diferença de preços que tem levado brasileiros e brasilienses a consumir no exterior é justificada por uma série de fatores. Para o professor de direito tributário das Faculdades Upis e procurador da Fazenda Nacional Rodrigo Moreira Lopes, a discussão é complexa. ¿Não há vilão nem mocinho nessa história. Os empresários vão sempre se defender. Eles não são os culpados por essa situação, mas também não podem ser vistos como vítimas¿, comenta.

O especialista lembra que a economia brasileira vive um bom momento e isso provoca aumento nos preços. ¿O comerciante tem o direito de cobrar o que quiser. Cabe ao consumidor fazer a contrapartida¿, enfatiza. Ele concorda que o sistema tributário brasileiro contribui para o cenário, mas pondera: ¿Não se pode permitir que os produtos estrangeiros venham competir com os nossos¿.

Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), João Eloi Olenike, os tributos são os principais responsáveis pela diferença de preços (veja arte abaixo). ¿É humanamente impossível querer comprar no Brasil uma mercadoria pelo mesmo preço encontrado lá fora¿, afirma ele, antes de elencar com outras justificativas o pagamento de royalties para produtos importados e os encargos trabalhistas.

Para fugir dos impostos e oferecer produtos mais baratos aos brasileiros, a empresa de malas Rimowa inaugurou no início do ano uma fábrica própria no interior de São Paulo. Com custos de importação reduzidos, o preço final dos produtos caiu entre 30% e 40% e passou a ser semelhante ao cobrado nos Estados Unidos. ¿Queremos que nossos clientes comprem aqui¿, diz o diretor da companhia, Sérgio Barreto.

Carga tributária Proprietária da Lord em Brasília e presidente da Associação Brasileira de Perfumarias Seletivas, Adriana Ricci explica que, enquanto os impostos não caírem, será impossível praticar preços menores. ¿Para um perfume entrar no Brasil, o valor dele aumenta de 110% a 130%. É taxa de tudo o que você imaginar. Fica inviável¿, protesta. ¿Enquanto isso, o brasileiro vai levando seu dinheiro para fora e o país perde com isso.¿

No caso das refeições, o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do DF, Clayton Machado, diz que a comparação com o exterior é injusta. ¿Que tipo de comparação é essa? Se tivéssemos as mesmas condições, cobraríamos menos. Temos que cobrar mais, não tem jeito: é uma questão inflacionária e financeira¿, desabafa.

Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no DF, Jaime Recena, comparar preços de jantares em Brasília com os cobrados em cidades da Europa, por exemplo, é relativo. Ele defende que os valores em restaurantes considerados cinco estrelas no exterior são bem maiores do que os da mesma categoria na capital federal.