Título: Casamento gay, o próximo capítulo
Autor: Álvares, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2011, Política, p. 2

A união entre pessoas do mesmo sexo promete causar mais discussões hoje na Câmara dos Deputados, durante o Oitavo Seminário LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), que vai levantar o tema do casamento civil entre homossexuais. Embora o público esperado seja de simpatizantes e apoiadores da causa, parlamentares da bancada evangélica, ainda que não convidados, admitem comparecer e acalorar a discussão. Segundo o deputado Jean Wyllys (PSol-RJ), coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT, não será vedada a entrada de ninguém e todos os que desejarem se posicionar terão direito a voz.

Contrário à causa e protagonista de tumulto recente no Senado ao distribuir panfletos contra a criminalização da homofobia, o deputado Jair Bolsonaro (PR-RJ) garantiu presença. ¿Espero que não haja confusão. Esse pessoal é intolerante e reclama da gente. Estou pensando em contra-atacar¿, destacou o parlamentar. Bolsonaro não concorda com a aprovação da união estável para casais gays e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF). ¿É um crime contra a família, o Estado. Não se pode pensar em disciplina desse jeito¿, avaliou.

Mesmo sem assegurar que vai comparecer ao evento, o deputado João Campos (PSDB-GO) se posicionou contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Casamento Civil entre Homossexuais, de autoria de Jean Wyllys. ¿É legítima a discussão, faz parte do processo democrático, mas a PEC me parece uma contradição. Até a véspera da aprovação da união estável pelo Supremo, o movimento homossexual dizia não querer o casamento¿. O parlamentar, que integra a bancada evangélica da Casa, disse ser vítima de preconceito, uma das maiores reclamações da comunidade LGBT. ¿Percebo que há preconceito acentuado da comunidade homossexual aos evangélicos, como se não tivéssemos visão de mundo¿, reclama.

Para Jean Wyllys, não há por que haver confusão no encontro. ¿Homossexuais são parte da sociedade e têm direito de debater assuntos que lhes dizem respeito. Se eles fizerem barulho, estamos preparados. Não vou me colocar contra a presença deles, desde que respeitem a dignidade dos homossexuais presentes.¿ A presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Manuela d¿Ávila, ressalta a força que a decisão do STF deu às discussões. ¿Embora o tema tenha sido escolhido antes do parecer do Supremo, o debate terá mais ânimo. A união estável, na minha visão, garante todos os direitos, exceto o casamento.¿ Ela explica que o seminário ocorre anualmente e tem como tema, a cada ano, um assunto de relevância para a comunidade LGBT.

Convidadas ilustres Além da questão do casamento gay, o seminário vai discutir políticas públicas e a cidadania dos homossexuais. ¿Esperamos que os parlamentares saiam do armário e ouçam nossas reivindicações. Apoiamos a iniciativa de propor o casamento, ainda mais depois da decisão do Supremo¿, disse o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (ABGLT), Toni Reis.

A presidente da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Adriana Galvão, também vai integrar uma das mesas. ¿Vamos até lá para abrir a discussão de regras claras e precisas quanto à união civil¿. As cantoras Preta Gil e Vanessa Camargo são as convidadas de honra para o seminário.

Adesões ao projeto A inscrição da PEC do Casamento Civil entre Homossexuais na Câmara dos Deputados depende do recolhimento de 171 assinaturas de parlamentares. O autor do projeto, Jean Wyllys, afirma já ter conseguido a aprovação de 75 deputados e senadores. ¿A decisão do Supremo abre portas porque iluminou a cabeça de muitos deputados. Acredito que, agora, temos um ambiente mais fácil para pedir adesões e explicar a proposta¿, destacou. Após a inscrição, a PEC passa por aprovação de comissões antes de ir a plenário. ¿Não tenho como garantir quando isso vai acontecer, mas vamos trabalhar para que seja ainda neste mandato¿, disse Wyllys.

Farda liberada na Parada do Rio O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, autorizou ontem policiais e bombeiros a participarem uniformizados da Parada do Orgulho Gay, prevista para agosto. ¿Da minha parte, estão todos liberados. Com carro do Corpo de Bombeiro, carro da polícia. Sem problema. Em Nova York é assim. Em Paris vão uniformizados. O amor não deve ser razão para discriminação¿, discursou Cabral. O anúncio foi feito durante o lançamento da Campanha Rio Sem Homofobia, que será veiculada em rádios, televisões, cartazes, outdoors, busdoor, mobiliário urbano, folhetos e em um site.