Título: Preços dos remédios variam até 987%
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2011, Economia, p. 12

Especial para o Correio

Comprar remédios no Brasil se tornou um drama para os consumidores. Aqueles que não se dispuserem a fazer uma pesquisa de preços ¿ mesmo que pequena ¿ poderão amargar um enorme prejuízo. Dados divulgados ontem pela Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) mostram que o valor de um mesmo medicamento pode registrar uma diferença de até 987%. É o caso do Diclofenaco Sódico, 50 miligramas, o genérico do Voltaren, tradicional analgésico e anti-inflamatório. Em Brasília, se o levantamento se limitar à Rua das Farmácias, a variação chega a 483%. No caso da Amoxicilina, entre o preço mínimo e o máximo, o intervalo fica em 134,90%.

O que assusta os consumidores, no entanto, é visto como vantagem por Arthur Rollo, especialista em direito do consumidor. No seu entender, as grandes diferenças de preços podem ser vistas como positivas e refletem uma economia de mercado, na qual prevalece a competição. ¿O fato de haver preços variados revela que há concorrência em um setor, não cartel. É uma vantagem para a população, que pode sair de uma farmácia e entrar em outra para pagar menos pelo mesmo produto¿, disse. Mas há também o lado perverso da história: o lucro exagerado. ¿A diferença é boa, mas quando ela chega a três dígitos, pode ser caracterizada como excessiva. Quem está cobrando muito mais está embolsando ganhos além do aceitável¿, acrescentou.

Sem fidelidade Para o especialista, normalmente, as maiores redes de drogarias conseguem arrematar grandes lotes de medicamentos com os laboratórios. Com isso, obtêm descontos generosos. ¿Nesses casos, as farmácias acabam repassando aos clientes parte dos descontos, uma prática saudável para cativar os consumidores¿, destacou. Ele ressaltou, porém, que as pessoas não devem se entusiasmar muito com os cartões de fidelidade, oferecidos pelos estabelecimentos de grande porte. Motivo: ao acreditarem que esse mecanismo é uma garantia de desconto, os consumidores acabam ficando presos às empresas e deixam de exercer um direito básico, o da pesquisa.

¿Os consumidores de medicamentos, principalmente os de uso contínuo, acabam fazendo cadastros em uma determinada drogaria com a ilusão do desconto. Eles acham que estão levando vantagem com o cartão de fidelidade. Mas perdem ao deixar de acompanhar os preços na concorrência¿, ressaltou Rollo. A seu ver, dependendo do caso, realmente existem ganhos no cartão de fidelidade, pois as empresas dão benefícios. ¿Mas é preciso prestar bastante atenção para não cair em armadilhas¿, assinalou.

Dor de cabeça Assustada com os preços abusivos dos remédios, que, em média, subiram 7% em abril, a técnica em enfermagem Priscila Maia, 30 anos, sempre opta por comprar em estabelecimentos que oferecem o menor valor. Como faz uso de medicamento controlado, pesquisa mês a mês. ¿Tomo Tylex (para dores agudas) e sempre procuro bastante antes de levar para casa. Na sondagem, economizo até R$ 11¿, contou. O administrador João Carlos Freitas, 63, vive a mesma situação. ¿Gasto cerca de R$ 200 em remédios. Se não procurasse, poderia gastar entre 20% e 30% a mais. Economizo mais de R$ 80 por mês¿, afirmou. Para economizar, ele ensina um método eficaz. ¿É necessário pesquisar em pelo menos três farmácias de grandes redes. As menores, geralmente, são mais caras.¿

O conselho de Freitas é seguido à risca pelo advogado Paulo Daniki, 50 anos. Ele desembolsa cerca de R$ 500 mensais com medicamentos e nota diferenças expressivas na comparação dos preços. ¿No mês passado, tive de comprar um descongestionante nasal. Encontrei por R$ 36, mas resolvi olhar em outros lugares. Acabei comprando por R$ 28¿, relatou. Para ele, a maior variação é encontrada em remédios consumidos frequentemente e de baixo custo, como os que combatem dor de cabeça e azia. ¿Por serem baratos, a gente acaba não pesquisando e sempre paga o mais caro¿, advertiu.

Pechinchar é fundamental A coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci, explicou que a grande diferença de preços não é exclusiva entre remédios. ¿Em supermercados também podemos encontrar grandes variações de preços para um mesmo produto, dependendo da marca. Não é o caso de regulação, não há como interferir¿, disse. No entanto, por se tratar de um item indispensável, em seu ponto de vista, o paciente não deve deixar de pesquisar. ¿O fato é que há concorrência e é importante que o consumidor tenha tempo para procurar¿, enfatizou.