Título: Diálogo será mantido
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2011, Economia, p. 14

Após as reações da Argentina diante das restrições impostas pelo Brasil à importação de carros, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, descartou ontem qualquer ruptura no relacionamento com o país vizinho. ¿Não existe guerra comercial e o diálogo não foi interrompido. O mercado argentino continua sendo um importante parceiro do Brasil no Mercosul e encontraremos soluções para os problemas sensíveis aos dois lados¿, garantiu. Ele espera se reunir com a ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, na próxima semana para tratar da barreira aos automóveis.

Embora a Argentina seja a maior prejudicada, pois quase metade de sua produção de veículos tem como destino o mercado brasileiro, Pimentel reafirmou que a medida tomada para conter importações de automóveis não teve o país como alvo específico, mas o mundo todo. ¿Trata-se de uma decisão soberana do governo brasileiro e uma forma de proteger a indústria do país, que vem sofrendo grave desequilíbrio na sua balança comercial¿. Ele observou que, só nos quatro primeiros meses, o deficit do setor chegou a US$ 1,9 bilhão.

Atraso Na sexta-feira, a ministra argentina enviou uma carta a Pimentel pedindo que ele reconsiderasse a decisão de atrasar a concessão de licenças para veículos importados. ¿Não nos sentimos pressionados, mas garantimos que a medida que tomamos não vai ultrapassar os 60 dias (para a liberação da licença) permitidos pelas regras da Organização Mundial do Comércio¿, reagiu Pimentel. Ele lamentou que os argentinos não fizeram o mesmo e extrapolaram em muito esse prazo, prejudicando exportadores brasileiros de diferentes ramos industriais, apesar de ter ouvido a promessa de desembaraço em visita a Buenos Aires em fevereiro.

Com quase três mil carros barrados na fronteira com o Brasil desde a última quinta-feira, as montadoras argentinas criticaram ontem a decisão do governo brasileiro. Em nota, a Associação de Fábricas de Automotores (Adefa), equivalente à brasileira Anfavea, expressou preocupação. O presidente da entidade, Aníbal Borderes, lembrou que 60% dos automóveis fabricados na Argentina se destinam ao exterior e 80% do volume exportado, ao Brasil. ¿Isso significa 50% do intercâmbio bilateral¿, ressaltou. Para Pimentel, porém, a Argentina foi a mais prejudicada pela medida apenas em razão da proximidade física. (SR)