Título: Petrobras anima mercado
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2011, Economia, p. 16

Apesar do mau humor dos mercados internacionais, que abriram ontem com forte queda após o escândalo sexual envolvendo o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominque Strauss-Kahn, as ações da Petrobras ajudaram a amenizar o recuo na Bolsa de Valores de São Paulo. Os investidores reagiram favoravelmente ao lucro de R$ 10,9 bilhões registrado pela estatal no primeiro trimestre, e a bolsa acabou caindo só 0,64%, encerrando aos 62.830 pontos. As ações ordinárias (com direito a voto) da empresa fecharam a segunda-feira com alta de 2,34%, a R$ 27,02. As preferencias apontaram valorização de 1,78%, a R$ 23,94. Nos últimos 12 meses, entretanto, os papéis acumulam queda de 10,07% e de 10,60%, respectivamente, por causa da política de não repassar a alta do petróleo ao preço da gasolina.

¿O mercado reagiu bem ao balanço da Petrobras. Foi um resultado muito bom e, como as ações estavam baratas, voltaram a subir¿, disse José Araújo Martins, economista da Prosper Corretora. Para Edmar Almeida, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o resultado da Petrobras tranquilizou os investidores. ¿O desempenho da companhia foi melhor do que o esperado. Isso significa que a empresa se beneficiou do forte aumento dos preços internacionais do petróleo, acalmando todos sobre a capacidade de a empresa sustentar o ritmo dos gastos sem comprometer o nível de endividamento¿, acrescentou.

Segundo o professor, a grande crítica do mercado era a de que o ritmo de investimentos da estatal havia sido fixado em um nível muito perigoso, voltado apenas para satisfazer os objetivos do governo. O aumento de 42% nos ganhos em relação aos primeiros três meses de 2010, no entanto, minimizou as desconfianças ¿ pelo menos, por enquanto. O lucro líquido da Petrobras ficou atrás da Vale, cujo resultado foi de R$ 11,29 bilhões.

Boa parte dos lucros da estatal decorreu da redução dos investimentos. Os desembolsos líquidos encolheram de R$ 10,4 bilhões, nos primeiros três meses de 2010, para R$ 4,2 bilhões. Segundo o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Almir Barbassa, a companhia projeta desembolsar R$ 93 bilhões neste ano. No ano passado, porém, a meta de investimentos não foi cumprida. A estimativa era aplicar R$ 89 bilhões, mas foram liberados R$ 76 bilhões.

O diretor destacou que o aumento da produção nacional de petróleo, a elevação das vendas de combustíveis e a valorização do real foram fundamentais para garantir o lucro recorde da empresa. ¿Foi um resultado excepcional, com aumento de produção e descobertas importantes de petróleo¿, afirmou. A receita de vendas no primeiro trimestre subiu 9% em comparação com o mesmo período de 2010, totalizando R$ 54,8 bilhões.

Já a esperada divulgação do plano de negócios, revisado anualmente pela Petrobras, foi adiada. Segundo Barbassa, o atraso ocorreu porque o Conselho de Administração da estatal pediu mais detalhes sobre os investimentos. Ele não precisou a nova data da divulgação. ¿Tudo indica que haverá redução nos investimentos da companhia, acompanhando assim, de forma coerente, a meta do governo em cortar gastos e conter a inflação¿, comentou Edmar Almeida, da UFRJ.

ESTABILIDADE NAS BOMBAS O mercado tem dúvidas sobre a política de preços que a Petrobras adotará daqui para a frente, diante do forte aumento das cotações do petróleo. ¿Há um desalinhamento entre os preços aplicados no Brasil e no mercado internacional¿, destacou o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar Almeida. O diretor financeiro e de Relações com Investidores da estatal, Almir Barbassa, voltou a defender ontem a prática da companhia de não passar a oscilação do mercado internacional para o valor final do diesel e da gasolina. ¿A política tem sido bem-sucedida em manter a estabilidade dos preços domésticos. Nosso caixa tem tido o mesmo desempenho a longo prazo do que se tivesse repassado as altas que ocorrem no preço do barril a curto prazo¿, afirmou Barbassa. Para ele, a Petrobras ¿cuida bem do consumidor¿ ao manter a estabilidade nas bombas.