Título: Argentina pede recuo do Brasil
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2011, Economia, p. 11

O desfecho da crise comercial entre os dois maiores parceiros do Mercosul não deverá sair antes de junho. Após duas horas de reunião ontem, em Buenos Aires, o embaixador do Brasil na Argentina, Enio Cordeiro, e a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giordi, definiram apenas que tentarão agendar, na próxima semana, uma primeira reunião para negociar a saída do conflito aberto na última quarta-feira, com a suspensão brasileira de importações de automóveis.

Assustada com as perdas acumuladas pela indústria automotiva argentina, que registra mais de 3 mil veículos barrados nas fronteiras com o Brasil, a ministra, sob orientação da presidente Cristina Kirchner, voltou a pedir ao embaixador o fim do embargo às importações, que, até a semana passada, eram liberadas automaticamente. ¿A principal reivindicação é de que o lado brasileiro libere parte dos automóveis, mas consideramos que medidas de boa vontade devem ser recíprocas¿, disse Cordeiro em resposta a Débora, deixando claro que o Brasil não vai ceder.

Pelo que foi acertado, o secretário de Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, e o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Alessandro Teixeira, foram designados para iniciar a conversa. Falta só escolher a data e o local do encontro de dois dias (Buenos Aires ou Foz do Iguaçu).

A expectativa é de que os secretários preparem a reunião posterior entre os ministros Débora e Fernando Pimentel, do Brasil, coordenando os temas que serão tratados por eles. O prazo limite para um acordo é a primeira metade de julho, quando completa 60 dias da vigência da suspensão de licenças automáticas para importação, deflagrada como represália às barreiras argentinas a alimentos, máquinas e calçados, entre outras mercadorias brasileiras.

Obstáculos Apesar do aparente clima de reaproximação, a Câmara Argentina de Importadores advertiu ontem que o país atravessa o momento de ¿maior tensão comercial¿ com o Brasil, devido a mútuos obstáculos estabelecidos para mercadorias dos dois lados da fronteira. A Argentina é o terceiro sócio comercial do Brasil, atrás de China e Estados Unidos, com trocas comerciais de US$ 33 bilhões em 2010. As exportações argentinas de veículos e autopeças ao mercado brasileiro movimentaram US$ 7 bilhões no ano passado.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, classificou a postura adotada pelo Brasil até agora como ¿correta e prudencial¿. Ele fez coro às justificativas do ministro Pimentel, de que não se tratava de uma resposta não apenas à Argentina, mas a todo o comércio mundial. ¿Foi uma forma encontrada para proteger a indústria brasileira, buscando igualdade de condições com o resto do mundo¿, disse.

Apelo à Europa O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse que o governo espera reverter a decisão da União Europeia de tirar o Brasil da lista das nações favorecidas pela redução tarifária em determinados produtos, por serem consideradas pobres. Na semana passada, a UE propôs que os países vistos pelo Banco Mundial (Bird) como ¿renda alta¿ ou ¿renda média-alta¿ não estejam entre os beneficiados pelo Sistema Geral de Preferências (SGP) europeu, o que excluiria o Brasil e outros países a partir de 2014. ¿Temos esperança de reverter isso. Não está resolvido¿, afirmou.