Título: Brasil e Suécia
Autor: Camargo, Leda Lucia Martins
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2011, Opinião, p. 13

Embaixadora do Brasil em Estocolmo

Não é por acaso que, em sua primeira visita à América Latina, o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, veio ao Brasil. Nossas relações são, desde sempre, muito especiais. Já em 1829 D. Pedro I casou-se com D. Amélia de Leuchtenberg, que era irmã da rainha da Suécia. Décadas depois, D. Pedro II autorizou a empresa sueca Ericsson a instalar o primeiro aparelho de telefone do Brasil em seu palácio. A também sueca ABB ¿ que viria a fabricar geradores para Itaipu ¿ foi, em 1912, responsável por ativar o bondinho do Pão de Açúcar. Entre 1922 e 1931, outra empresa sueca forneceu o cimento utilizado na construção do Cristo Redentor. Aliás, a primeira conquista de um título mundial de futebol pelo Brasil, em 1958, teve como palco a cidade de Estocolmo.

Fatos pitorescos como esses ajudam a resgatar parte da história das relações entre os dois países. Tendo conservado neutralidade em períodos de guerra e o não alinhamento em tempos de paz, a Suécia é reconhecidamente uma potência no que diz respeito à defesa da paz ¿ a atuação do sueco Dag Hammarskjöld como secretário-geral das Nações Unidas ainda é recordada com admiração. Os suecos também impressionam por sua criatividade e inovação: não só inventaram a dinamite, a hélice de navio e o palito de fósforo, como também a telefonia celular, o mouse para computador, a ultrassonografia e o marca-passo cardíaco.

O ativismo sueco na área dos direitos humanos é um marco e só ganha em força: a rainha Sílvia, filha de brasileira, fundou, em 1999, a World Childhood Foundation (WCF) ¿ organização que também tem escritório na capital paulista ¿, que apoia mais de 500 projetos em 16 países em prol de crianças e adolescentes. Sua presença em seminário no Congresso Nacional brasileiro, com a representante especial do secretário-geral das Nações Unidas Marta Santos Pais, é prova do reconhecimento internacional à sua extraordinária iniciativa na busca por soluções para a proteção das crianças e dos adolescentes e para o combate ao abuso e à exploração sexual infantil.

As relações econômicas e comerciais entre Brasil e Suécia são vigorosas. Os investimentos suecos no Brasil são tão significativos que, em virtude da grande mão de obra empregada pelas empresas suecas, costuma-se dizer que o estado de São Paulo é um dos ¿grandes centros produtores suecos¿.

O intercâmbio comercial triplicou entre 2003 e 2008, tendência que, com a criação do Conselho Empresarial Brasil-Suécia, quando da visita do casal real da Suécia, em 2010, deverá ser mantida nos próximos anos. A entidade congrega os mais importantes executivos das 220 empresas suecas presentes no mercado brasileiro e se reuniu oficialmente pela primeira vez esta semana, durante a visita do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt a Brasília.

Para além de sua importante e significativa vertente econômico-comercial, as relações Brasil-Suécia têm adquirido, nos últimos anos, inegável estofo político. É sintomática a multiplicação das visitas de alto nível, bem como o estabelecimento da parceria estratégica entre os dois países, cujo plano de ação, lançado durante visita a Estocolmo do presidente Lula, em 2009, traça ambiciosas diretrizes para cooperação nas mais diversas áreas.

O Memorando de Entendimento sobre Bioenergia (2007), que consagrou a Suécia como principal aliado europeu na promoção do uso do etanol brasileiro, e o Protocolo Adicional sobre Alta Tecnologia Industrial Inovadora (2009) ¿ que já apresenta resultados concretos, como o projeto entre a Vale e a Scania para fabricar motores movidos a etanol, a serem utilizados em ônibus e caminhões no Brasil ¿ são mais dois valiosos instrumentos que têm alçado o relacionamento bilateral a novo e elevado patamar. Ainda na área de biocombustíveis, são promissoras as perspectivas de cooperação com terceiros países, em particular na África.

Deve-se recordar também que Brasil e Suécia têm grandes convergências no que diz respeito a importantes temas da agenda multilateral, como a preservação da biodiversidade, a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o alargamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o progresso da Rodada Doha, o desarmamento nuclear e a ajuda ao desenvolvimento sustentável.