Título: Gabinete de crise para estancar a devastação
Autor: Silveira, Igor ; Álvares, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2011, Brasil, p. 10

Os resultados do desmatamento na Amazônia divulgados, ontem, pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) levaram a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, a instituir um gabinete de crise para combater o problema. Mato Grosso é o estado com a situação mais preocupante. Somente lá, foram registrados 477,4km² de desmate, área equivalente a 80% de toda a destruição detectada na Amazônia Legal, entre março e abril deste ano. O levantamento é mais um fator de instabilidade no governo federal, já pressionado por ambientalistas pela falta de acordo no Congresso para a aprovação do texto do novo Código Florestal.

Com isso, a ordem na pasta é usar todos os recursos disponíveis para frear a devastação das florestas. Classificando a situação como inaceitável, Izabella Teixeira anunciou que o gabinete será coordenado por ela, com a participação de funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e de secretários estaduais de Meio Ambiente. Além disso, as operações para coibir a prática criminosa contarão com a presença de policiais federais e homens da Força Nacional de Segurança.

¿Todo o nosso efetivo está em campo. Só em Mato Grosso, temos mais de 500 homens para sufocar o desmatamento. Temos homens que não voltam para casa há 90 dias. Queremos sufocar o crime ambiental e, até que a situação seja controlada, o trabalho não para¿, ressaltou a ministra. ¿Quem apostar em desmatamento para a criação de bois ou preparar plantação terá os animais e a produção apreendidos e doados ao Programa Fome Zero¿, completou.

Quando questionada se o pico de destruição, especialmente em Mato Grosso, tinha alguma ligação com a aprovação do novo Código Florestal, a chefe da pasta se esquivou e garantiu que o governo ainda não tem uma explicação e está recolhendo novos dados para encontrar uma resposta. ¿É uma situação atípica. Não sabemos o que está acontecendo, mas a situação está sendo avaliada e, nos próximos 15 dias, divulgaremos uma avaliação¿, disse.

Com correntes A ação dos criminosos impressionou não só pelo tamanho da área devastada, mas também pela época em que o desmatamento foi feito e pelas técnicas utilizadas. Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, os crimes começaram a ser praticados mais cedo e a parte da vegetação foi arrancada de um jeito quase não mais utilizado, chamado ¿correntão¿. Isto é, uma grossa corrente é colocada em torno de árvores, que são arrastadas por tratores de grande porte.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, que esteve presente na divulgação do balanço, destacou que o ministério apoiará o gabinete de crise com informações em tempo real e imagens de alta definição. ¿Os que cometem as infrações e pensam que ficarão impunes, escondidos no meio da floresta, estão enganados. Os satélites estão acompanhando tudo e não há como se esconder¿, avisou.