Título: R$ 100 bi no cartão
Autor: Batista, Vera ; D"angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2011, Economia, p. 16

A inadimplência nos cartões de crédito ¿ faturas vencidas há mais de três meses e não pagas ¿ subiu para 8% em março deste ano, frente a 7,7% no mesmo mês de 2010. No caso das transações em que houve cobrança de juros, 24,7% dos valores devidos estavam atrasados, conforme dados da Associação Brasileira das Administradoras de Cartões de Crédito e Serviços. Essas operações incluem tanto as compras divididas com juros nas lojas quanto a rolagem do pagamento pelo crédito rotativo ou o parcelamento da fatura com a própria administradora.

Como esse percentual é o mesmo do ano passado, o que está acontecendo é o atraso no pagamento por clientes que antes quitavam a fatura integralmente no dia do vencimento, que ainda respondem por 68% das transações com cartões.

Um terço dos R$ 97,4 bilhões que os brasileiros devem para as administradoras de cartões de crédito está sendo engordado pelos juros. A desvantagem para os consumidores desse grupo é que eles estão arcando com as taxas de juros mais altas do país, ganhando até dos encargos do cheque especial. De acordo com dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), os juros médios cobrados no cartão de crédito em abril deste ano foram de 10,7%, e do cheque especial, de 8%.

Pior do que parcelar ou entrar no crédito rotativo é não pagar nem sequer o valor mínimo no vencimento. Nesse caso, além das altas taxas de juros, as administradoras cobram 2% de multa pelo atraso e juro de mora de 1% ao mês. Com isso, os encargos podem chegar a impressionantes 15% nos primeiros dias de atraso. ¿O consumidor tem que ficar atento, pois o cartão de crédito é uma facilidade. Ele tem que se lembrar de que precisa pagar depois¿, diz a assistente de direção do Procon/SP, Marta Aur.

Ela lembra que, com a fatura, já vem a proposta para parcelar aquele valor. ¿O consumidor acha que se trata de uma boa opção, mas os juros são altos¿, alerta a técnica do Procon/SP. Não há discriminação da proposta de parcelamento e de seus encargos. O cliente é apenas informado da parcela a pagar e da taxa de juros cobrada, diz Marta Aur. Mas há incidência de outros encargos, como Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e, às vezes, de taxa de concessão, que não é explícita. Assim, a cobrança de fato é bem mais alta, o que torna a opção desvantajosa, comparada com outras formas de crédito que o cliente pode obter em bancos, como o consignado ou o pessoal.

Para ajudar o consumidor a controlar o endividamento, a partir de 1º de junho, o pagamento mínimo da fatura do cartão será de 15%. Hoje, as administradoras estabelecem valores menores, de 10% em geral. ¿Facilitam para que o consumidor gaste muito e pague pouco de imediato, mas ele acaba se endividando mais¿, explica a técnica do Procon/SP. A partir de 1º de dezembro, esse limite mínimo passa a ser de 20%.

Outra novidade entra em vigor no fim do mês. Para os novos cartões, as administradoras só poderão cobrar até cinco tipos de tarifas: anuidade, tarifa de saque, segunda via da fatura, pagamento de contas e avaliação de crédito. Segundo Marta Aur, atualmente as administradoras cobram até 80 tipos de tarifas conforme o serviço oferecido. (AD)