Título: Fluxo sobe US$ 8,8 bi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2011, Economia, p. 19

O Brasil voltou a receber uma entrada maciça de dólares na última semana. Depois de o Banco Central ter elevado a taxa básica de juros (Selic) para 12% ao ano em 20 de abril, ficou interessante para os investidores captarem dinheiro no exterior, converter em real e aplicar em renda fixa no país, mesmo pagando 6% de imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Assim, o ingresso de recursos, que vinha minguando, voltou a subir. O saldo entre o capital estrangeiro que entrou e saiu do país na primeira quinzena de maio foi positivo em US$ 8,8 bilhões. Só a conta financeira ficou em US$ 4,5 bilhões.

A balança comercial brasileira, influenciada pelos preços altos de produtos básicos e pela repatriação de dólares de exportadores, também tem promovido números expressivos de ingresso de capital no país. Até 13 de maio, os contratos de exportações venceram de importações em US$ 4,2 bilhões. Parte desse montante se explica ainda pela valorização do dólar nas últimas semanas, que tornou mais interessante trazer o dinheiro obtido nas vendas externas.

Com esse movimento, aumentaram também as pressões por uma queda mais acentuada da divisa norte-americana. Ontem, o dólar fechou o dia com queda de 0,62%, cotado a R$ 1,612. "Essa queda toda se deve ao fluxo de dólares. Entrou dinheiro demais no país. As empresas continuam tomando empréstimos no exterior e trazendo muito capital", avaliou José Roberto Carreira, economista da Fair Corretora. "Tá sobrando dinheiro no mundo."

A ata do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), divulgada ontem, indicou que não é o momenta de os EUA subirem os juros, o que poderia prejudicar a recuperação do país. Além disso, as autoridades ainda estudam colocar dinheiro nos bancos e na economia norte-americana, elevando intensamente o volume de capital em circulação no mundo. Tudo isso faz com que a já alta rentabilidade brasileira fique mais atraente aos olhos dos estrangeiros.

O ingresso de dólares no Brasil alcançou US$ 45,9 bilhões até maio, volume 88,8% maior que o registrado em todo o ano passado. Com esse excesso, a equipe econômica está em alerta, mas, ainda espera para ver como esse movimento vai se dar nas próximas semanas para decidir se mais medidas serão necessárias. "Por enquanto, estamos apenas observando o fluxo. Não há medidas no radar", afirmou uma fonte graduada do governo. (VM)