Título: Brasil desafina na AL
Autor: Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2011, Economia, p. 20

A recente deterioração de importantes indicadores da economia brasileira, como a inflação, funcionou como um banho de água fria nas expectativas dos analistas para o desempenho da América Latina. O Índice de Clima Econômico (ICE) da região ¿ calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a partir de dados do instituto alemão Ifo ¿ caiu para 5,6 pontos em abril. Na medição realizada três meses antes, ficou em 5,8 pontos. No mesmo período, o ICE do Brasil despencou de 6,7 pontos para 5,9 pontos.

Como o país tem peso importante na composição do índice, devido ao alto volume de suas transações comerciais, acabou deixando todos os países latino-americanos em um patamar que só não é pior do que o registrado no início de 2009, quando o mundo ainda vivia a ressaca da crise econômica internacional. ¿O Brasil foi um dos primeiros países a sair da crise e passou por uma fase de boom econômico. Agora, está saindo dessa fase de boom para uma situação de declínio, o que mostra que os analistas estão vendo algum problema nos indicadores do país¿, afirmou a coordenadora do Centro de Estudos do Setor Externo da FGV, Lia Valls.

Para ela, comparado com outros países da América do Sul, o Brasil está gerando maior preocupação entre os analistas com a inflação em alta, a elevação do deficit público e a falta de competitividade da indústria. ¿A piora no Índice de Clima Econômico mostra que o mercado tem dúvidas sobre se o governo brasileiro conseguirá reverter a tendência de piora nesses indicadores¿, explicou.

Previsão pessimista A sondagem apontou que os analistas mantiveram sua avaliação sobre a situação atual da economia latino-americana, mas temem que, em um horizonte de seis meses, seja menos promissora. No caso brasileiro, a queda foi verificada tanto na análise do momento quanto das perspectivas. Enquanto isso, levando-se em conta o mundo todo, o ICE melhorou de 5,9 pontos para 6,0 pontos.

Diferentemente do Brasil, que sai da fase de boom para entrar em declínio, os Estados Unidos estariam deixando o momento de recuperação econômica para iniciar um período de boom. A União Europeia, por sua vez, deixa o declínio para voltar a um boom. O Japão consolida uma fase de recessão, França e Reino Unido mantêm-se em recuperação. Entre os países dos Brics, Índia e Rússia conseguem manter o boom econômico, mas a China apresenta declínio.

A inflação foi uma das principais influências na avaliação das expectativas em abril. No mundo, a previsão para a inflação de 2011 aumentou de 3,4% para 3,8% entre a sondagem de janeiro e abril. Na América Latina, a projeção ficou estável em 7,9%, embora sejam esperadas acelerações para Uruguai, Paraguai, Bolívia, Brasil, Chile, Peru e Equador. No mundo, as previsões para o crescimento passaram, em um ano, de 2,7% para 3,2%. Na América Latina, a expectativa foi de 3,4% para 4,3%.

Trichet pede alta de moedas emergentes O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, pediu que as potências emergentes com forte superavit na balança comercial deixem suas moedas se valorizarem gradualmente. Ele não citou, nominalmente, nenhum país, mas a China tem sido alvo da pressão internacional para permitir que o iuan se aprecie, como forma de permitir a competitividade de produtos de outros países. ¿O câmbio de grandes países emergentes com forte superavit precisa se tornar mais flexível gradualmente, o que quer dizer permitir a valorização de maneira gradual e ordenada¿, disse. Trichet acrescentou que ainda há muito a ser feito para melhorar a coordenação econômica internacional, pois vários países da Europa continuam em sérias dificuldades e ainda há dúvidas sobre a recuperação da economia dos Estados Unidos.