Título: Afinados por Palocci
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2011, Política, p. 4

O Palácio do Planalto escalou ministros e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), para conter a tormenta provocada pelas suspeitas contra a evolução patrimonial do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci. Ontem, o titular da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou qualquer investigação aberta na Polícia Federal contra Palocci ou sua empresa de consultoria Projeto. O mesmo expediente foi usado por Guido Mantega, da Fazenda. Já Vaccarezza atuou para esvaziar reuniões em comissões e evitar que a oposição votasse requerimentos convocando o ministro a prestar esclarecimentos.

A operação foi organizada pela presidente Dilma Rousseff, pelo próprio Palocci e por outros ministros. O titular da Casa Civil passou praticamente todo o dia no Palácio da Alvorada com Dilma ¿ chegou de manhã e só saiu da residência oficial às 18h30.

O resultado da estratégia veio com notas e negativas articuladas. A primeira fala em defesa de Palocci veio da Câmara, onde Cardozo falava na Comissão de Segurança Pública. ¿Não há inquérito aberto para apurar nada em relação ao ministro Palocci ou sua empresa. Em nenhum momento a Polícia Federal solicitou informações ao Coaf sobre ele ou a empresa¿, disse o ministro da Justiça.

Mais tarde, o Ministério da Fazenda divulgou nota negando que o Coaf tenha emitido comunicado à Polícia Federal sobre operações suspeitas de Palocci. A Projeto, empresa do ministro da Casa Civil, também publicou comunicado com o mesmo teor. Na Câmara, a estratégia foi esvaziar comissões em que a oposição pudesse votar requerimento convocando Palocci. O alvo principal foi a de Segurança Pública.

A mesma estratégia deve se repetir na semana que vem, pelo menos até o fim da votação do Código Florestal, na terça-feira. O ministro está na berlinda desde que foi divulgado que seu patrimônio aumentou 20 vezes em quatro anos.

Mesmo com o governo atuando para contornar o episódio, a oposição anunciou que utilizará uma brecha no regimento da Câmara para solicitar dados sigilosos de Palocci ao Coaf e Receita Federal. Líder do DEM na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA) protocolará em cinco comissões Propostas de Fiscalização e Controle (PFC).

O dispositivo dá a um deputado, escolhido relator pelo presidente de uma Comissão, poder de atuação próximo ao das Comissões Parlamentares de Inquérito. Faz parte do pacote o direito de fazer diligências e ouvir ministros de estado. Para dar encaminhamento às PFCs, porém, a oposição precisará da boa vontade do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Para ser criada, a proposta precisa da assinatura do petista. Dos 17 pedidos protocolados desde o início do ano, 14 permanecem pendentes e só três foram autorizados.