Título: Excesso de dinheiro
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2011, Economia, p. 19

O Banco Central fracassou na tentativa de retirar ontem R$ 8 bilhões da economia. Preocupada com as pressões inflacionárias geradas pelo excesso de dinheiro no caixa dos bancos ¿ que vem estimulando a oferta de crédito ao consumo ¿, a autoridade monetária realizou uma operação chamada de compromissada. Por meio dela, o BC vendeu títulos públicos ao mercado e assumiu o compromisso de recomprá-los em um ano, pagando a taxa básica de juros (Selic), de 12%. Mas o mercado só aceitou entregar R$ 4,5 bilhões.

A medida vem na esteira das estratégias adotadas pela autoridade monetária desde o fim do ano passado e que tem o objetivo de conter o consumo e a inflação, que, em 12 meses, está acima do teto da meta definida pelo governo, de 6,5%. A venda de títulos ontem ataca diretamente o caixa dos bancos. Com o ingresso recorde de dólares no país, US$ 45,9 bilhões até maio, as instituições financeiras estão com reais sobrando para transformar em crédito. E o próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, tem alertado constantemente para os efeitos inflacionários desse excesso de dinheiro disponível.

Rédeas curtas Para evitar excesso de dinheiro na economia, todo os dias o BC realiza as operações compromissadas, mas com valores menores. Quando os bancos compram os títulos vendidos pela autoridade monetária, deixam de transformar parte dos seus recursos em empréstimos. Ontem, porém, como o volume era elevado e o prazo de vencimento da operação, distante, ficou claro o objetivo do BC de manter as rédeas curtas sobre o sistema bancário. Segundo técnicos do governo, a estratégia de alongamento dos prazos das operações compromissadas vai continuar, mesmo com a resistência do mercado.

Atualmente, 18,5% de toda a dívida pública, de R$ 1,97 trilhão, se referem a operações compromissadas. Grande parte delas, segundo dados do BC, tem vencimento no curtíssimo prazo ¿ três meses. Em janeiro de 2010, 27,3% de todo o endividamento estava nessa condição. De lá para cá, com o aperto na liquidez, o BC conseguiu diminuir os excessos.

Limites do Banco Central O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu ontem que o nível de atuação da instituição em relação ao câmbio e aos juros é limitado. Em um almoço com Pedro Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ele afirmou que tudo depende de como os outros países conduzem suas políticas monetárias e, como exemplo, citou os Estados Unidos. Classificou ainda o intenso fluxo financeiro que tem chegado ao país ¿ US$ 45,9 bilhões até maio ¿ como uma espécie de bom problema. ¿Os fluxos para o Brasil, além do diferencial da taxa de juros, também são fruto de uma situação econômica melhor do país¿, disse.