Título: Inflação recua, mas preocupa
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2011, Economia, p. 19

Depois de muito sofrer com a disparada da inflação, os analistas respiraram aliviados ontem. Pela primeira vez no ano, um indicador de preços veio abaixo das estimativas do mercado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ¿ 15 (IPCA-15), prévia da taxa oficial, apontou alta de 0,70%, quando, em média, os especialistas previam 0,74%.

A despeito da boa notícia, os economistas alertaram que não há motivos para o Banco Central relaxar no combate à carestia, pois ainda permanece alto o risco de a inflação superar o limite estipulado como aceitável, de 6,5%, neste ano.

Nos primeiros cinco meses de 2011, o IPCA-15 acumulou elevação de 3,86% e, em 12 meses, 6,51%. O presidente do BC, Alexandre Tombini, comentou o IPCA-15 durante encontro com a diretoria do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em São Paulo.

Segundo o presidente da instituição, Pedro Passos, o comandante do BC avaliou que a inflação começa a ceder e que talvez ainda ocorram ¿alguns soluços¿, devido a altas pontuais de determinados produtos. ¿Mas, apesar disso, a tendência é positiva¿, disse Tombini.

Ele ressaltou ainda que o BC está atento à questão da alta dos preços de serviços e que o governo está fazendo um esforço importante, sob o comando dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, para que as metas fiscais sejam cumpridas. A expectativa de Tombini é de que, com alguma paciência, a inflação cairá a patamares mais confortáveis, entre 0,37% e 0,38% ao mês.

Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, mesmo com a desaceleração do IPCA-15, o risco de a inflação fechar o ano acima do teto da meta continua grande. ¿É importante ficar claro que, apesar do recuo esperado da inflação nos próximos meses, o cenário continuará exigindo atenção da autoridade monetária¿, ponderou. Na avaliação de Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, pelo menos nos próximos três meses haverá um recuo natural da inflação.

Com a ausência de pressões como a de renovações de contratos de aluguel e a entrada no mercado da safra agrícola, existe a possibilidade de serem divulgados números negativos, a chamada deflação. ¿O IPCA-15 está pegando resquícios do mês passado, como o preço da gasolina e de alguns alimentos. Quando vier o fechado do mês, será bem abaixo desse patamar, pelo menos metade disso¿, disse.

O grupo alimentação, um dos que mais tem puxado a inflação no ano, continuou sua trajetória de alta ¿ 0,54% ¿, mas desacelerou frente a abril, quando a taxa havia sido de 0,79%.

O grupo transportes seguiu a mesma tendência: recuou de 1,43% para 0,93%. ¿Ainda assim, considerando que o IPCA mostrou elevações mensais relevantes ao longo deste ano. Por isso, mantemos a nossa visão de que a inflação exige monitoramento¿, afirmou Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.