Título: Obama pode falhar, mas não desistir da paz
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Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2011, Opinião, p. 26

Às vésperas de receber o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Barack Obama fez no Departamento de Estado, em Washington, na quinta-feira, discurso claramente favorável aos palestinos e contrário ao grande aliado judeu. Ao defender a tese de um Estado palestino com fronteiras nos limites anteriores aos da Guerra de Seis Dias, de 1967, ele se aproximou dos trabalhistas do tradicional partido de centro-esquerda desapeado do poder pelo conservador Likud.

Depois de matar Osama bin Laden, receber aplausos dos concidadãos pela façanha e ver seu prestígio interno crescer, o presidente dos Estados Unidos dá, assim, importante passo no combate ao terrorismo, ainda que por ora o avanço apenas esteja no plano da retórica. Aliás, exatamente nesse ponto reside a questão.

Terá a nova posição respaldo no próprio Departamento de Estado, no Pentágono e no Congresso? Ou não passaria de mais uma boa intenção do presidente que ascendeu com promessas de guinadas radicais que continua a dever?

Afinal, em vez de retirar as tropas do Afeganistão, o que ele fez foi enviar mais 30 mil soldados para lá. O fechamento da prisão de Guatánamo é outro exemplo frustrante. Como também não saiu do papel nem sequer um esboço de tentativa real de eliminação das armas nucleares. Mas, pouco além da metade do mandato, Obama parece querer, desde já, instalar um pé num eventual segundo período de mando na Casa Branca.

O presidente chegou ao poder como antítese do antecessor, George W. Bush, belicista notório. Famoso pela oratória, até ganhou um Prêmio Nobel da Paz antes mesmo de ter tempo de transportar para o plano da realidade as esperanças que fez brotar no mundo com a sua eleição. Falta irrigar e adubar melhor a árvore da conciliação, mas Obama ao menos tem o duplo mérito de não se omitir e de ostentar a bandeira certa.

A tentativa de reaproximação com os árabes não é gratuita e seria ingenuidade localizá-la especificamente no campo do politicamente correto. Razões econômicas e de segurança nacional forçam os Estados Unidos a se moverem na direção certa. Como os ventos sopram a favor e rápidas mudanças estão em operação no Oriente Médio, o momento é propício a avanços. Quem souber aproveitá-lo certamente fará história.

Em campanha, o presidente usou o slogan ¿yes, we can¿. Mas a derrota dos democratas nas eleições de novembro para o Congresso norte-americano, com a perda da maioria na Câmara dos Deputados, reduziu seu poder de fogo. Ou seja, ficou mais difícil cumprir promessas. Quanto a esta do conflito árabe-palestino, as dificuldades são especialmente maiores. Primeiro, terá de unir a própria casa, incluindo os republicanos. Depois, contar com a boa vontade dos dois lados em disputa. Por fim, restará o pomo da discórdia: a quem caberá a administração de Jerusalém? Só não dá mais para desistir.