Título: Aliados em choque
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2011, Mundo, p. 28

Barack Obama e Benjamin Netanyahu não tiveram um encontro fácil. O primeiro-ministro israelense e o presidente dos Estados Unidos ficaram estagnados nas negociações para um acordo de paz entre Israel e a Palestina. A reunião entre os dois, em Washington, durou 90 minutos a mais do que estava previsto. No entanto, os esforços do chefe de Estado norte-americano parecem não ter surtido efeito e estremeceram as relações com seu principal parceiro no Oriente Médio. O premiê foi enfático: Netanyahu não apenas rejeitou a proposta para o retorno das fronteiras a um status quo anterior a 1967, como deixou de assinalar quais concessões estaria disposto a fazer. O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, pediu mais firmeza e pressão por parte da Casa Branca para que o processo de paz avance.

Obama crê ser impossível prolongar o impasse entre palestinos e israelenses, especialmente em meio às mudanças em andamento no mundo árabe. Netanyahu, por sua vez, afirmou que Israel também quer um acordo. Mas o primeiro-ministro assegurou que qualquer pacto não pode ser ¿baseado em ilusões¿. Os dois tiveram uma conversa informal, em frente às câmeras, sem discursos preparados. ¿Eu acho que para chegar à paz, os palestinos precisam aceitar algumas realidades básicas. A primeira é que, enquanto Israel está preparado para fazer compromissos generosos, ela não pode voltar para as fronteiras de 1967, porque essas fronteiras são indefensáveis. Elas não levam em conta mudanças demográficas que foram feitas nos últimos 44 anos¿, disse o primeiro-ministro israelense.

O presidente dos EUA admitiu que os dois países não conseguiram chegar a um consenso, mas declarou que as negociações continuam. Apesar de ter endurecido o discurso em relação à Israel, ele tentou amenizar a situação durante o encontro com Netanyahu. ¿Nosso principal objetivo tem que ser assegurar um Estado israelense, um Estado judeu, vivendo lado a lado em paz e em segurança com um Estado Palestino contínuo, funcional e efetivo. Obviamente temos algumas diferenças nas formulações mais precisas e na linguagem, e isso vai acontecer entre amigos. Mas o que estamos de acordo é que a verdadeira paz só pode acontecer se uma resolução definitiva permitir que Israel possa se defender contra ameaças¿, afirmou Obama.

Sem rodeios Netanyahu também foi firme e direto durante a visita a Washington. Ele fez questão de ressaltar que o diálogo depende de uma escolha feita por Mahmud Abbas: a paz com Israel ou uma união com o grupo fundamentalista Hamas. ¿Israel não pode ser chamado para negociar com um governo que é apoiado por uma versão palestina da (rede) Al-Qaeda. O Hamas, como o presidente disse, é uma organização terrorista comprometida com a destruição de Israel. Eu acho que o presidente Abbas tem uma escolha simples. E eu só posso expressar que espero que ele faça a escolha certa, escolher a paz¿, disse o primeiro-ministro, após a reunião, ao lado de Obama.

O recado foi recebido e imediatamente rejeitado pelo líder palestino. ¿As relações Hamas-Fatah são uma questão palestina interna¿, afirmou Nabil Abu Rudeina, porta-voz de Abbas. O presidente da AP pediu que Obama e a comunidade internacional sejam mais incisivos para tornar um acordo de paz possível. Abbas também defendeu, mais uma vez, que Israel aceite a criação de um Estado palestino com base nas fronteiras de 1967. ¿A posição de Netanyahu é um repúdio oficial à iniciativa de Obama, à legitimidade internacional e ao direito internacional¿, completou o representante palestino.

Para Mohammed Abu-Nimer, especialista em resoluções de conflito e professor da Universidade Americana em Washington, apesar da reunião não ter apresentado resultado concreto, um passo importante já foi dado. ¿A política de Obama tinha sido mais de conversas do que de ações em relação à situação da Palestina. Ele não estava confrontando o governo israelense sobre as questões mais importantes e sua administração é vista como fraca em relação à Israel. Mas o discurso foi muito direto em relação às fronteiras de 1967 e isso foi um grande melhora da posição americana em relação ao assunto. No entanto, ele só vai poder fazer diferença e conseguir implementar algum avanço no processo¿, disse ao Correio.