Título: Foi assustador
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2011, Cidades, p. 19

¿Foi um desespero só. As pessoas começaram a gritar. O barco começou a afundar pela parte de trás. Em cinco minutos, o barco havia afundado¿, contou o aflito Guilherme Soares, 15 anos, morador da Vila Paranoá. Ele conseguiu se salvar nadando até a margem do lago. Guilherme calculou que tenha ficado na água por cerca de 25 minutos. Perto das 23h, ele estava na porta do Hospital de Base acompanhando a prima Mônica de Araújo, de 21 anos, que estava com suspeita de ter quebrado um dos braços. Mônica foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros. Guilherme continuava desesperado por não ter informações sobre o paradeiro de seu pai, sua madrasta e outra prima.

Na porta do Ascade, por volta das 23h, Jaqueline da Silva, 29 anos, contava à mãe, pelo celular: ¿Mãe, eu quase morri, se não fosse uma boia. Uma menina ficava me puxando e quase me afogou¿. Operadora de telemarketing, moradora do Setor O, em Ceilândia, Jaqueline havia sido convidada, como marido, o maitre Fenelon Vasconcelos, 35, anos para uma festa, convite pelo qual pagou R$ 65. ¿Havia muita gente no barco. Acho que tinha mais de uma festa¿.

¿Foi tudo muito rápido. Quando vi que o barco estava afundando, corri, consegui pegar um colete pra mim e outro pra minha filha e nos jogamos na água. Não sei nadar, fiquei batendo perna até que fui resgatado¿, contou Heraldo Saldanha, 39 anos, ao sair do Pronto-Socorro do Hospital Regional da Asa Norte. Ele estava com a mulher, Gildete, e os dois filhos. Todos pularam na água e se salvaram. Gildete contou que viu a água entrando no barco. ¿Foi assustador¿. Por volta das 23h30, a família Saldanha pegou um táxi na porta e foi para casa.

O estudante Magno Moreira, 22 anos, estava no banheiro quando percebeu a água entrando na embarcação. Saiu correndo e se jogou no lago. ¿Me atirei na água e fiquei segurando no barco¿, disse ele. Magno disse que ¿aparentemente¿ não havia colete para todo mundo. ¿Vim mais ou menos uns 25, 25 coletes¿. Outro sobrevivente, Luís Eduardo Junqueira, 25 anos, disse que nadou e tentou ajudar os amigos. Ao saber que um barco havia naufragado no Paranoá, a família de Luís Eduardo correu para o Ascade e o encontrou são e salvo.