Título: Dívida pública vai a R$ 1,7 tri
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 24/05/2011, Economia, p. 12

O governo brasileiro continua recorrendo ao mercado financeiro para cobrir seus excessos de gastos. Somente em abril, a dívida pública federal aumentou R$ 36,9 bilhões (2,34%), atingindo a cifra recorde de R$ 1,73 trilhão. Esse número deixou os analistas em alerta, uma vez que o Tesouro Nacional se diz comprometido em manter as finanças do país sob controle.

A perspectiva era de um avanço menor no endividamento ou, na melhor das hipóteses, uma estabilidade. A agência de classificação de risco Standard & Poor¿s deu, porém, um voto de confiança e elevou a perspectiva da nota (rating) do Brasil de ¿estável¿ para ¿positiva¿, citando a expectativa de que o custo da dívida do país seja reduzido.

Para bancar a gastança, o Tesouro emitiu R$ 47,8 bilhões em títulos, dos quais R$ 14,3 bilhões para cobrir despesas com juros, que estão em alta desde janeiro, com o intuito de conter um novo surto inflacionário.

O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, tentou minimizar os números.

Segundo ele, o que houve foi uma ¿demanda¿ maior por títulos do governo. ¿Em abril, fizemos cinco leilões de títulos pré-fixados (com rentabilidade definida no ato da operação), quando o comum são quatro. Além disso, as condições para a emissão foram positivas¿, disse.

Na avaliação do economista Frederico Turolla, da Consultoria Pezco, o sinal é de alerta. ¿O aumento da dívida reflete que o governo está sendo obrigado a captar cada vez mais recursos no mercado, independentemente da alta dos juros, para fazer frente às despesas, que estão em disparada, e aos aportes ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)¿, afirmou. ¿O volume da dívida está muito elevado faz tempo, e isso é um risco grande, pois boa parte do endividamento é de curtíssimo prazo¿, completou.

A fatia da dívida correspondente a títulos corrigidos pela taxa básica de juros (Selic), não considerando os contratos de swap cambial (usados pelo Banco Central para conter a queda do dólar), ficou em 32,13%, pouco abaixo dos 32,24% de março, mas acima da meta fixada pelo Tesouro, entre 28% e 32%. A participação dos papéis indexados à inflação passou de 28,33% para 28,54%. ¿O fato de a dívida pública aumentar é negativo e destaca a necessidade do governo de controlar os gastos¿, comentou o economista-sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood.