Título: Tragédia no Lago Paranoá
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Fonte: Correio Braziliense, 24/05/2011, Opinião, p. 14

Mais uma tragédia no Lago Paranoá assusta os brasilienses. Um ano depois do acidente que roubou a vida de duas irmãs, barco afunda com cerca de 100 pessoas a bordo ¿ entre passageiros e tripulantes. A embarcação comportava 90 pessoas. Transportava pelo menos 14 a mais. A superlotação parece ser uma das possíveis causas da catástrofe. É provável que outras venham a ser apontadas com o transcorrer das apurações.

Esses desastres se somam a outros. Em janeiro de 2010, lancha com dois pescadores foi ao fundo e matou um. Em maio de 2008, colisão de dois barcos perto do Palácio da Alvorada pôs fim à existência do capitão do Exército Luiz Antônio de Matos. Atropelamentos também enriquecem a triste crônica das águas que cercam a valorizada península da capital da República.

Imprudência, irresponsabilidade, falta de fiscalização (ou a adição de parcela de cada uma) reabrem o debate sobre a urgência de definir política de segurança mais efetiva para a área. Frequentadores do lago afirmam que, sobretudo à noite, a vigilância é quase inexistente. A certeza da impunidade, vale lembrar, estimula aventuras irresponsáveis.

Com a certeza de que ¿comigo não acontece¿, consomem-se sem pudor ou cerimônia drogas lícitas e ilícitas. Embarcações sem a devida manutenção trafegam livremente. Também circulam as que desrespeitam a exigência de equipamentos de segurança. Condutores despreparados assumem o leme com a convicção de velhos capitães.

Claro que não se pode generalizar. Há os que respeitam as imposições da lei. Mas os constantes acidentes demonstram que algo está errado. O número de lanchas e similares que trafegam no lago é maior do que de muitas marinas situadas no litoral. Brasília tem a terceira frota do Brasil, atrás de São Paulo e Rio. Daí surgem os riscos de colisões e de manobras ousadas que provocam naufrágios.

Cabe à Capitania dos Portos exercer rigoroso controle sobre o tráfego, os condutores e as condições de navegabilidade de lanchas, escunas, veleiros e outros meios. Mas é utópico imaginar que seja possível fiscalizar cada uma das 11 mil embarcações registradas que deslizam nos 40km² de extensão do espelho d´água. Ao lado da severidade do setor público, a responsabilidade dos cidadãos deve falar alto. A campanha Paz no Trânsito, que salvou tantas vidas no asfalto, precisa embarcar no Lago Paranoá.