Título: Comissão vai convocar empresários
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 24/05/2011, Cidades, p. 28

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Pró-DF convocará mais oito pessoas para esclarecer supostas irregularidades em processos na Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE). Os futuros depoentes são, na maioria, empresários do setor construtivo, como o ex-senador cassado Luiz Estevão e a sua mulher, Cleuci Meireles Estevão, que pleitearam a concessão do terreno, um dos benefícios do programa. Os nomes foram sugeridos pelo ex-titular da pasta José Moacir Vieira ontem à tarde à comissão. Segundo a presidente da CPI, deputada Eliana Pedrosa (DEM), pelo menos, três pessoas devem ser ouvidas na próxima segunda-feira.

O ex-secretário da SDE ¿ empresário do setor de materiais de construção, com um total de 13 lojas ¿ foi o primeiro a ser ouvido pela CPI do Pró-DF. Antes de responder às perguntas dos deputados, ele fez um breve histórico da sua gestão, que durou pouco mais de 90 dias. Aparentemente constrangido e nervoso, Moacir Vieira relatou que a pasta é um ¿território livre para ganhos espúrios¿ e que, do ponto de vista administrativo, a ¿secretaria era um cenário de horror¿. Ele afirmou que o preenchimento de cargos por cabos eleitorais em lugar de servidores capacitados era uma prática alimentada há duas décadas. Ele denunciou que sofreu pressão de ¿oito a 10 distritais¿ para que nomeasse correligionários, mas não revelou os nomes dos parlamentares.

Moacir Vieira garantiu que enquanto esteve à frente da SDE não autorizou a concessão de nenhum lote. O pente-fino realizado nos pedidos de liberação de área, apresentados em 2010, desagradou os empresários. ¿Quando começamos a colocar o dedo na ferida acabamos incomodando muita gente¿, disse.

Ele reiterou que chegou a sofrer ameaças de morte. Questionado se poderia indicar pessoas para serem ouvidas pela CPI, o ex-secretário sugeriu o ex-senador Luiz Estevão. ¿Por quê um dos caras mais ricos de Brasília vai querer benefício do Pró-DF?¿, questionou Moacir Vieira.

Além do ex-senador cassado e da sua mulher, proprietária da Santa Fé Construções e Incorporações, deve ser chamada a sócia dela, Fernanda Meirelles Estevão de Oliveira Rezende. O empresário foi procurado, mas não foi localizado pela reportagem.

O dono de uma empresa de construção civil foi citado pelo ex-secretário, que destacou ainda a rapidez ¿fora do normal¿ na aprovação do processo em nome de uma outra empresa do ramo de material de construção. Em apenas 12 dias, de 2 a 14 de dezembro de 2010, o pedido foi liberado pela Terracap. O mesmo ocorreu com uma administradora de condomínios. Uma servidora da SDE, identificada como Aurilene, também será chamada a depor pois seria ¿um arquivo vivo¿ da pasta na avaliação do ex-secretário.

Para Moacir Vieira, o atual modelo do Pró-DF deve ser extinto. ¿Grande parte dos processos na secretaria está infestada de laranja. É uma cultura impregnada.¿ Ele alertou a CPI para áreas gigantes e milionárias que foram liberadas pelo Pró-DF na L2 Sul. ¿Isso é uma vergonha¿, condenou.

O atual subsecretário da SDE, Laerte de Oliveira Santos, também foi ouvido pela comissão. Ele disse que há indícios de que processos eram liberados após pagamento de propina.

¿Isso nos foi dito por empresários que se sentiram prejudicados¿, afirmou. Segundo ele, o pente-fino da secretaria restringiu o foco à liberação de terrenos. ¿Porém, é preciso avaliar os créditos concedidos, que somam mais de R$ 1 bilhão, desde a criação do programa. No total, 79 empresas, receberam os benefícios fiscais.¿