Título: Devastação e proteção da Amazônia
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Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2011, Opinião, p. 20

No dia seguinte em que as naus do almirante luso fundearam na Baía de Porto Seguro, marco da descoberta do Brasil, se iniciou a devastação das riquezas florestais do país. Mas apenas no começo do século passado o governo brasileiro despertou para o problema. Passou a enfrentá-lo, todavia, com medidas anêmicas, tópicas, muito aquém de programas preservacionistas de índole estratégica. Ano após ano, a extração ilegal de madeiras da Amazônia Legal (que compreende os estados do Amazonas, do Pará, de Mato Grosso, de Rondônia, Tocantins, Roraima e o oeste do Maranhão) seguiu em escalada incontrolável. Houve ano na década de 1980 em que a atividade predadora arrasou área correspondente ao território conjunto da Holanda e da Bélgica.

Porém é certo que, desde então, acentuaram-se, no âmbito governamental, medidas para combater as agressões ao meio ambiente na imensa região. De qualquer modo, tratava-se o desafio com políticas de dimensão secundária, longe de considerarem a integridade dos tratos amazônicos como questão de segurança nacional. Com a elevação do Ministério do Meio Ambiente, em 1993, ao topo da importância reservada às pastas mais expressivas, as derrubadas passaram a refluir, malgrado em modestos percentuais.

Assustado com o aumento, nos últimos nove meses, de 27% no curso da eliminação de árvores na Amazônia, o governo, por sugestão da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, decidiu instituir gabinete de crise para agir e reverter a tendência calamitosa. Nada menos de 1.848 quilômetros quadrados de floresta desapareceram em arrastões com correntes acopladas a tratores pertencentes a criminosos (área correspondente à da cidade de São Paulo). Do gabinete, além da ministra Izabella, participarão os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Nelson Jobim (Defesa) e Fernando Bezerra (Integração Nacional).

A entrada do Exército no conjunto dos contingentes (Polícia Civil, Polícia Federal e integrantes da Força Nacional de Segurança) convocados para a fiscalização e combate aos implicados na violência ambiental prenuncia atuação vigorosa e coerente com a colossal tarefa. É, pelo menos, a primeira operação orgânica e articulada de órgãos capazes de cumpri-la.

Não parece haver dúvida quanto ao acerto da iniciativa. Lamenta-se, apesar de tudo, que só agora os gestores do poder político se tenham dado conta de mobilização preventiva e repressiva adequada. Afinal, desde sempre se impôs como obrigação do Estado brasileiro guardar da cobiça aventureira e destruidora o bioma mais rico e mais importante do planeta, estendido em mais de 5,5 milhões de quilômetros quadrados (quase 60% do território nacional). Sem ignorar que o desmatamento ilegal resulta, também, de esquemas de corrupção e cumplicidade de agentes públicos.